Ritmando
Essa noite eu quis ter sonhos coloridos, então liguei o som nas minhas preferidas e coloquei o fone de ouvido.
Dormi assim.
Quando abri meus olhos ainda sentia aquele ritmo embalado no coração, mas lamentei de ter que sair dos meus sonhos quentes e colocar os pés no chão gelado.
Não, eu não queria a realidade. Só por hoje.
Queria ficar lá, movendo meus lábios no ritmo das palavras e cantando cada letra como se fosse eu que as tivesse escrito. Sentir cada marcação da bateria, cada solo de guitarra e os detalhes graves, lá no fundo da canção, de um baixo tímido, mas impetuoso. Aprazível e aconchegante como um abraço quente era a voz do que cantava.
Ficaria assim por horas a fio se o dia amanhecendo lá fora não me esperasse, tão ávido de pessoas superficiais e códigos de boa conduta que cumprem com má intenção.
Ah, se a vida fosse uma bela canção, onde pudéssemos baixar o volume para as dores muito agudas e passar a faixa quando a gravidade nos incomodasse e quiséssemos algo mais dançante e alegre. Que tivesse o compasso e o ritmo que mais amamos e os nossos amores cantassem com voz morna e macia.
Pelo menos existem fones de ouvido e podemos levar a música pro nosso mundo, já que o mundo aí fora não é uma bela canção.