O PRESENTE DE PAPAI NOEL
O PRESENTE DO PAPAI NOEL
O natal está chegando.
Em todos os rostos e em todos os gestos se vê estampado a alegria de viver.
Passarinhos constroem seus ninhos. O céu torna-se mais azul e durante a noite, podemos apreciá-lo pontilhado de miríade de estrelas. A lua surge no horizonte, parecendo mais prateada, evocando e inspirando poetas, para o convívio habitual.
É neste momento de encantamento, de apreciação do belo, de tudo que o nosso Criador dá de presente, que podemos refletir e amenizar: temores, incompreensões, desajustes sociais, fome, miséria, violência e guerras que tão fortemente assolam a humanidade.
Em meio deste redemoinho de contradições, afloram nossas esperanças, fortalecendo nosso espírito, com as luzes do Natal, que em breve chegará.
Os planos natalinos já convivem com nosso cotidiano. É a reforma da casa, cortinas novas, listas de presentes, visita de algum parente distante, viagem no final do ano, até o cardápio já está sendo carinhosamente preparado.
As reminiscências também começam a chegar de mansinho, trazendo a lembrança de um Natal muito distante, há décadas, quando eu tinha seis anos de idade.
Era dezembro, quase véspera do Natal.
Ansiosa aguardava a chegada do Bom Velhinho.
Naquela época era diferente. Os presentes eram colocados durante a noite, perto da porta da saída da casa, para que ao acordarmos, fôssemos correndo, ainda meio sonolentas, procurar os tão esperados pedidos, que havíamos feito ao Papai-Noel.
Quase não dormíamos, tamanha era a expectativa.
Até hoje, penso escutar o barulho da porta entreabrindo-se, imaginando o Bom Velhinho, es colhendo o meu presente e saindo vagarosamente, com seu pesado saco às costas.
Naquele ano havia pedido uma boneca.
Entretanto vítima da minha curiosidade, pois uma semana antes, não sei qual foi o motivo, que me fez olhar debaixo da cama do quarto de hóspedes e descobrir aquela caixa.
Como não estava embrulhada com papel de presente, não contive minha curiosidade, abrindo-a:
Imaginei na minha doce inocência, que o Papai Noel, como tivesse muitas encomendas para entregar a todas as crianças, havia resolvido deixar antes o meu presente, facilitando sua árdua tarefa no Natal.
Eu relembro até hoje.
Era uma linda boneca! Vestido vermelho, sapatinhos da mesma cor e os cabelos eram dourados e cacheados.
Peguei-a no colo, acariciando-a docemente.
Sufoquei o grito de alegria, e cuidadosamente, coloquei-a na caixa.
Não revelei a ninguém o que havia encontrado.
Chegou, finalmente, o dia de Natal.
Acho que madruguei, pois todos os de casa ainda estavam dormindo, quando levantei.
A ansiedade era tão grande, que esqueci de calçar meus chinelos que estavam ao pé da cama.
Corri para o lugar aonde eram colocados os presentes, que triste surpresa! - Lá não estava a minha boneca, mas sim um outro presente.
O meu desapontamento foi imediato e algumas lágrimas rolaram pela minha face.
Resolvi revelar que aquele não era o meu presente, pois o que eu havia visto debaixo da cama de hóspedes, era a linda boneca que eu havia pedido.
Foi então que ouvi de imediato a resposta, e fui obrigada a aceitá-la com tristeza e resignação.
= Àquela boneca o Papai Noel deve ter levado para outra criança, ele não gosta que curiosos vejam seus presentes antes do Natal.
Durante semanas procurei-a no sótão, no porão, nos armários, até no quintal, na esperança do Bom Velhinho ter se arrependido e de ter perdoado minha curiosidade, trazendo de volta a minha sonhada boneca.
Infelizmente, isto não aconteceu.
Outros natais sucederam.
Fui crescendo, amadurecendo, convivendo com os revezes da vida, mas sempre embalada com as doces e alegres lembranças da minha distante infância
Assim, depois de tantas décadas, recordando as nossas peraltices, os aconchegos maternos e tudo o que armazenamos nas fases douradas da nossa existência é que posso concluir.
Naquele distante Natal, eu não ganhei minha linda boneca, de vestido vermelho e cabelos dourados e cacheados, mas eu fui muito bem recompensada com três lindos botões de flores, que enfeitam e alegram minha existência e que, sorrindo e cantando, tão docemente me chamam de vovó:
MEUS QUERIDOS NETINHOS;
BERNARDO, GUILHERME E LETÍCIA.
Página incluída no livro da autora: Quando florescem os cafezais
Curitiba, set.2002