Meus Longos cabelos

Era uma manhã ensolarada de domingo na fazenda. Eu e minha família recebíamos meus tios e minhas duas primas para o almoço. Foi nesse dia que tudo aconteceu.

Minha mãe e minha tia foram para a cozinha preparar o almoço enquanto os homens foram para o campo vistoriar o gado. Nós, as crianças, fomos brincar no quintal e quando os homens chegaram, o almoço já estava servido.

Durante o almoço, meu pai convidou meu tio para pescar. Na fazenda não tinha lugar mais lindo do que o rio. Eu e minhas primas já ficamos de orelha em pé, mas o pai não queria nos levar.

As mulheres não falaram nada, mas logo após o almoço lavaram a louça e pediram para que fôssemos colocar as roupas de banho, para que pudéssemos nos refrescar naquela tarde quente. E, enquanto mamãe e titia arrumavam os lanches para levarmos, nós brincávamos no quarto.

Eu tinha dez anos, era franzina, loirinha de cabelos longos. Para minhas primas, foi muito divertido me ver de maiô, com as pernas finas de fora. No final ficamos rindo umas das outras. E, para nossa alegria, minha mãe gritou da cozinha:

- Meninas, vocês estão prontas? Não se esqueçam de colocar uma toalha na sacola.

Pedi que esperassem eu amarrar os cabelos. “Não precisa. Deixa solto. Vai molhar mesmo”- retrucou mamãe. Com bastante pressa, minha prima pegou uma sacola e colocou uma toalha, xampu e o sabonete.

E lá íamos nós, para tomar banho no rio. Eu e as minhas primas saímos correndo pelo campo, queríamos chegar logo para encontrar nossos pescadores. O caminho não era longo, mas foi o suficiente para brincarmos, rolando no pasto verde fazendo estripulias.

Quando chegamos à mata que cercava o rio, minha mãe disse para ficarmos sempre por perto e na parte rasa do rio, onde pudéssemos avistar nossos pés. Não sabíamos nadar e o rio tinha partes fundas e muitas correntezas.

Mamãe e titia foram se banhar na parte funda do rio, e nos deixaram em uma pequena ilha de pedra. De longe, elas acompanhavam as nossas brincadeiras com bolhas de sabão, feitas do xampu e sabonete. Cansada das brincadeiras, gritei para minha mãe:

- Mãe, eu vou procurar o pai!

Minha mãe falou qualquer coisa, mas ela estava tão longe que eu pouco compreendi. Só me lembro dela falando:

- Não vá muito longe!

Saí correndo em disparada e minhas primas me acompanharam. Logo avistei o meu tio. Estava com as mãos na cabeça, triste. Eu gritei:

- Tio, tio, cadê o meu pai? Mas ele não me escutava, não me respondia. Estava com um ar de tristeza.

Parei. Meu coração começou a palpitar, meu corpo estremeceu. Comecei a chorar. Pensei no pior: meu pai havia se afogado.

Voltei correndo. Eu queria os braços de minha mãe.

Para meu azar, escorreguei no sabonete que havíamos deixado às margens do rio, nas pedras. Caí na água e fui levada pela correnteza. Senti a correnteza me levando, me afogando. Minhas mãos e pés tentavam se agarrar ao barranco do rio e as folhas batiam em meu rosto. De repente, galhos se enroscavam em meus cabelos. Tentei abrir os olhos, mas estava tudo muito escuro. Meus olhos só conseguiam ver a imagem do meu pai e meus ouvidos ouvir a minha mãe gritar.

Senti meus cabelos sendo puxados fortemente. Minhas forças haviam se esgotado. De imediato pensei: “vou morrer”.

Era o meu pai me puxando de dentro do rio, me apertando ao seu peito. Ele estava pescando do lado contrário do rio, para o lado que não olhei. A cara feia de tristeza de meu tio foi porque não havia pescado nenhum peixe. Meu pai viu quando caí na água e correu me ajudar.

Minha sorte foram os meus cabelos longos, que mamãe mandou não prender naquele dia. É por isso que eu ainda hoje preservo meus cabelos longos.

Jéssica Kur Fuchs
Enviado por Jéssica Kur Fuchs em 30/04/2013
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