A Professora
Ali sentada a olhar para a Praça, Maria era a imagem da desilusão. Depois de algumas horas de autocarro chegara, por mim, ao destino. Terra seca, casas velhas, gente pobre. – Espera alguém? – perguntou o dono do Café mirando-a de alto a baixo. – Não, não espero ninguém. Sou a nova professora. Onde é o Hotel? Não há? – Não senhora. Nem Hotel nem Pensão nem nada onde possa ficar. A casa que lhe destinam está pronta mas sem mobília, sem eletrodomésticos. Pela conversa do Presidente só para a semana terá condições para a receber. Pode tentar a Casa Paroquial mas o padre não gosta que lá pernoite ninguém. A menos que a senhora não se importe de ficar na minha casa. Sou viúvo, moro com uma irmã… disse Luciano, o dono do Café, ajeitando o colarinho e afagando a barba.
Ao jantar mal se olharam e a conversa, breve, morreu à hora das notícias. Foi assim também no dia seguinte mas, com a curiosa irmã de Luciano a insistir nas perguntas, deu consigo a falar de si, da vida, daquele verdadeiro exílio que aceitou para continuar a ter trabalho. – A terra é pequena e desajeitada como já percebeu e quase só há velhos por aqui. São raras as crianças, como verá quando lhes for dar as aulas… O meu Luciano, por exemplo, está viúvo vai para três anos e não acha quem mereça um olhar mais sério. Alguém como a senhora seria bem-vinda á nossa casa, à vida dele que bem precisado anda de companhia. – Cala-te, Lucinda, não vês que incomodas a senhora professora? – Trate-me por Maria, pediu ruborizada, intimamente alegre com o rumo da conversa.
Quando a casa finalmente ficou pronta, Luciano fechou o Café para a ajudar na mudança. Juntos decidiram sobre a melhor utilização dos espaços. Olhavam-se demoradamente, tocavam-se como que por acaso e, ao fim do dia, ele disse-lhe: - sou homem de poucas falas e nenhum jeito para declarações de amor. O certo é que a Maria me agrada e tudo indica que lhe não sou indiferente. Casa comigo?
Ela, aceitou.