MAL DO MAR
 
Meu hobby predileto é pescar e nada me faz mudar de ideia quando nos finais de semana decido sair com amigos a uma pescaria. Confesso que nunca fui um bom pescador só consegui neste meu feito alguns lambaris, bagres ou tucunarés.
 Um amigo me falou que o bom mesmo é a pesca embarcada, isto é, a pesca em alto mar. Falou que já havia passado por esta maravilhosa experiência e que poderíamos combinar pra qualquer dia irmos juntos.
Até então só havia pescado em lagoas, açudes e rios, me encantei com a ideia de me aventurar tal qual um pescador profissional, resolvi apressar e combinando para o domingo seguinte.
O  domingo amanheceu ensolarado com nuvens dispersas, parecia o dia ideal.  Chegamos cedo à praia, compramos sardinhas e camarões que serviriam de iscas, preparamos o material de pesca e zarpamos rumo aquele mar imenso e cheio de mistérios.
O barco era grande com capacidade para 20 pessoas.  O piloteiro achou conveniente ocupar o barco com apenas 15, explicando que com menos pessoas a viagem seria mais tranquila. Sua decisão me acalmou um pouco transmitindo confiança na aventura e naquele homem experiente já que me encontrava bastante ansioso e confesso com um pouco de medo.
Ali no meio do nada a sensação que senti foi indescritível. Muito lindo ver toda aquela água ao redor da embarcação e como mágica mudando de cor cada vez que nos distanciávamos do porto.  
Senti-me leve e solto e na expectativa de fisgar o maior peixe de toda a minha história de pescador. A câmara fotográfica na mochila já preparada para registrar o momento que posteriormente mostraria com orgulho para meus parentes e amigos. Aquele registro poderia classificar como o dia mais feliz da minha vida.  
O piloteiro foi atrás dos cardumes e em menos de uma hora começamos a pescaria. Embora as ondas nos últimos minutos tivessem ficado um pouco agitadas isso não nos impediu de ver peixes médios e grandes sendo fisgados por alguns companheiros e isto aumentou mais a minha ansiedade.
Aos poucos comecei a sentir uma sensação estranha como se algo estivesse a corroer meu estomago. Tentei me acalmar achando que poderia ser pela ansiedade, mais pouco tempo depois acompanhou a tontura, a náusea e uma dor de cabeça forte que parecia que meus miolos estavam sendo cozidos e daí em diante foi um deus me acuda. Comecei a vomitar incontrolavelmente parecia que ia morrer. O piloteiro me ofereceu um antiemético que imediatamente ingeri na esperança de melhorar e recuperar as forças, pois me sentia já a beira de um colapso.
Com a vista turva ainda conseguia enxergar peixes que eram fisgados, admirados e devolvidos ao mar, e o cheiro me fez enjoar ainda mais.
Alguém me orientou a olhar fixamente para o horizonte, senti uma leve melhora, mas logo voltei a me sentir muitíssimo mal.
A melhora foi passageira e desejei que tudo aquilo acabasse. Queria estar em casa o mais breve possível para respirar aliviado de todo aquele pesadelo, mas não podia fazer naquele momento. Estavam todos muito eufóricos e se divertindo, não poderia atrapalhar a pescaria.
Minha vista escureceu por completo e desfaleci voltando à consciência bom tempo depois já à beira mar, rodeado pelos companheiros de pesca que me prestavam os primeiros socorros e alguns curiosos que estavam na praia.
Felizmente estava bem. Somente um pouco de dor de cabeça e estomago roncando de fome.
Meu amigo me cumprimentou perguntando como estava me sentido. Respondi que melhor e que precisava mesmo era comer para restituir as forças.
Naquele mesmo dia senti vontade de esganá-lo quando fiquei sabendo através de outro amigo sobre o “mal do mar” e as precauções que deviam ser tomadas antes de uma aventura como aquela, principalmente para um marinheiro de primeira viagem como eu.
Confesso que fiquei traumatizado ao ponto de não poder sentir o cheiro de peixe sem que não enjoasse e voltando a pescar meses depois somente em locais que eram de costume.
Se já valorizava o pescador aprendi a valorizar mais ainda, pela coragem de enfrentar todas as dificuldades que surgem a sua frente. E que dificuldades!

 
Jorgely Alves Feitosa
Enviado por Jorgely Alves Feitosa em 29/04/2013
Reeditado em 19/10/2018
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