EM ALGUM LUGAR DO PASSADO *
* Inspirado no texto "O SONHO DE UM MENINO POBRE" de autoria da escritora Maith, publicado no Recanto das Letras em 01/02/2007.
Essa é uma história parecida com a de muitos outros meninos, que tiveram que abandonar os seus estudos prematuramente e começaram a trabalhar muito cedo para ajudar no sustento da família.Embora essa ajuda, fosse quase insignificante,servia para compor a renda familiar, e por outro lado, moldar o caráter. Em certa ocasião ouvi dizer, que o trabalho dignifica e enobrece o homem. Ele serve também, para dar às crianças trabalhadoras maior responsabilidade e tenacidade. Afinal, era melhor ganhar pouco, do que não ganhar nada.
Em algum lugar do passado, ouvi a minha mãe dizer: Meu filho você precisa estudar para ser alguém na vida; caso contrário, você vai ficar burro e puxar carroça quando crescer... Sempre ouvi dizer que a fé remove montanhas. As dificuldades eram muitas. Éramos mais pobres do que ratos de igreja e comecei a pensar, que embora tivesse fé, eu nunca conseguiria ser alguém. No máximo, ganharia um salário insignificante e pronto. Estava tudo resolvido.
Se eu não conseguisse "ser alguém", como as pessoas diziam, seria naturalmente, "um nínguém... Na verdade,eu queria ser uma pessoa de bem, embora fosse um Jorge qualquer ou um Jorge Ninguém. Isso ficou até um pouco engraçado, e até mesmo, poético...
Comecei a trabalhar aos onze anos de idade, numa loja atacadista de brinquedos, ferramentas e utilidades domésticas, propriedade do meu tio Jadir Augusto de Almeida, já falecido. Que Deus o tenha em bom lugar, ele era um homem bom. Eu não podia ser registrado como empregado pela minha pouca idade. Nessa situação,tinha que trabalhar praticamente escondido, com se estivesse fazendo alguma coisa errada ou desonesta. Os fiscais do Ministério do Trabalho, andavam desconfiados, e visitavam a loja freqüentemente. Eu fazia serviços externos, faxina na loja, arrumava mercadorias, atendia clientes, etc.
Apesar do meu baixo nível de escolaridade naquela época, eu tinha um sonho. Eu queria ter a oportunidade de estudar um pouco mais, e se possível, fazer carreira na vida militar. Eu queria ser soldado, cabo, sargento ou oficial do Exército Brasileiro. Depois disso, constituir uma família, ter um ou dois filhos, e se possível, comprar uma casinha bem simples e uma motocicleta.
Considerando-se as proporções do sonho do personagem da história referenciada, ele queria ser Presidente da República, o meu sonho era bem pequeno, isto é, do tamanho da minha capacidade... Possivelmente, até maior que a minha capacidade. Eu tinha ainda, outro sonho. Intimamente, eu pensava que algum dia , poderia me tornar um poeta e escrever pelo menos, uma poesia. Pensava também, em me tornar cantor. Eu tinha até, um certo jeito para a coisa. Os meus sonhos, eram por assim dizer, quase inatingíveis. Eu era apenas um menino pobre, com a cabeça cheia de minhocas e um baixo nível de escolaridade. Nunca pensei em ser presidente de nada. Nem de Clube Recreativo.
Honestamente, nos caminhos desta vida, fui um pouco de tudo: vendedor de loja, operário de um multinacional, office boy, auxiliar de mecânico de automóveis,entregador,auxiliar de escritório, etc.
Drogas na juventude? Não conheci nenhuma e também, nunca usei. No meu tempo de juventude, nem se falava nessas coisas. A droga da minha época era cachaça com Coca-Cola que chamavam de samba em Berlin. Para encurtar essa história, tenho a dizer que todos os meus modestos sonhos acabaram se tornando realidade. Tive que desistir da vida artística por imposição da própria vida militar. Tive que fazer uma escolha.Nos meus poemas "Eu queria ser artista e Capacidade",ambos publicados no Recanto das Letras, eu falo sobre esses assuntos. Para falar a verdade, eu nunca escrevi nada parecido com esse texto. São fatos da vida real, de um menino pobre que se atreveu a sonhar, e que, com a ajuda de Deus, conseguiu os seus pequenos projetos realizar.
Na escola da vida aprendi,
Meus sonhos pequenos sonhar.
Menino pobre bastante sofri,
Deus ajudou, pude realizar.
Agradeço ao visitante, que teve a paciência de ler esse capítulo da minha história. Uma história comum de um menino pobre que cresceu nos subúrbios do Rio, nas periferias da vida, nas esquinas do mundo, e que, por obra do destino, acabou se tornando poeta / escritor.