Coração de mãe partido ou onde foi que eu errei?
Olha, Josefa! Na TV! É meu filho! É meu filho! É o Carlos lá! É o Carlos! É dele que estão falando! É ele naquele vídeo! É ele! E tão dizendo que foi ele quem fez o assalto! Que matou a dentista! É pôs fogo nela porque ela tinha pouco dinheiro! Só trinta reais na conta! Olha lá, Josefa! Olha lá!
Eu queria não acreditar no que estou vendo. Queria dizer que é engano. Que não foi ele quem fez isto. Mas está gravado, não está? Não há como negar! Mesmo que ele viesse chorando. Dizendo mais uma vez:
- Mãe, sou inocente. Acredita em mim!
Como fazia quando era pequeno. E eu ingênua, muitas vezes acreditava. Porque das acusações que lhe faziam, muitas vezes não tinham prova. E eu confiava no meu filho. Eu dizia: “Meu menino não é disto! É moço bom!” Agora, tá aí a prova do seu mal feito. Em vídeo. Na TV. Pra todo mundo ver. Parentes, vizinhos. Amigos. É ele! Estou vendo com estes olhos que a terra há de comer. E antes já tivesse comido. Pra eu não ter tamanho desgosto. Pra eu não ter tamanho sofrimento. Que vergonha, meu Deus! Que vergonha! Um filho meu fazer isto! Um filho que criei com tanto sacrifício, virar assim bandido. E bandido dos ruins! De matar gente inocente sem motivo. Com maldade. Só porque não tem dinheiro!
Onde foi que eu errei, meu Deus? Onde foi que eu errei?
Eu juro que fiz de tudo por este menino. Você viu, Josefa! Você viu! Criei ele sozinha depois que o pai dele nos abandonou. Quando foi embora pra morar com uma rapariga sem valor. Que o proibiu até de ver o filho. E o canalha aceitou! E não quis mais saber do menino. Nunca apareceu pra fazer uma visita. Nunca mandou um presente pro coitado. Nem em Natal, nem em aniversário. O bichinho cresceu perguntando:
- Cadê meu pai, mãe? Por que ele não vem me ver?
Que judiação! Eu dizia pro Carlos que ele foi trabalhar longe. Muito longe. Noutro Estado. Por isso não o vinha ver. Mas que viria. Assim que conseguisse uma folga no trabalho. E Carlos ficava esperando. Contando os dias no calendário. Pra chegar o fim de semana. Feriado prolongado. Férias de fim de ano. Pro pai ter uma folga e vim vê-lo. E o pai nunca veio... Antes tivesse morrido o desgraçado do pai do Carlos! Será que foi por isso que meu filho ficou assim? Tão revoltado? De sair pondo fogo nos outros?
Eu sempre me matei de trabalhar! Tudo pra não deixar faltar nada pro meu filho! Fiz sempre o melhor que pude pro meu menino! Ia na escola sempre que me chamavam. Pra dizer que ele tava com mau comportamento. Não fazendo a lição na aula. Bagunçando. Batendo nos amiguinhos. Eu brigava com ele! Colocava de castigo! Dava conselho! Pedia pra ele não andar em má companhia. Sempre seguir o caminho reto. De homem de bem. Trabalhador. Honesto! Arranjar uma boa moça e formar família. Me dar netos!
Todo meu sacrifício não adiantou de nada! Não adiantou! Olha o que meu filho virou: Bandido assassino! Procurado da policia! Onde foi que eu errei, meu Deus? Onde foi que eu errei? Você sabe, Josefa, onde foi que eu errei?
O Carlos precisa pagar pelo que fez! Meu filho precisa! O que fez é muito errado. Inaceitável. Ele tem que ser punido. Ficar de castigo. Pra nunca pensar em fazer isso de novo. Nem nada parecido.
Eu mesma vou ligar pra policia, Josefa. Eu mesma! Agora! Pra dizer que o rapaz do vídeo é meu filho. Que ele está aqui em casa. Dormindo sossegado. Como se não houvesse feito nada errado. E que podem vir aqui busca-lo!
Meu coração de mãe está partido, Josefa! Não é com gosto que faço isto! Não é! Entregar pra polícia meu menino. Mandar pra cadeia meu único filho. Mas isto é o certo! É isto! É o que precisa ser feito.
Carlos é meu filho e o amo! Quero o melhor pra ele! Por isso mando pra correção meu menino!