AS HISTÓRIAS QUE MINHA AVÓ CONTAVA
AS HISTÓRIAS QUE MINHA AVÓ CONTAVA
Quantas décadas são passadas.
Eu tenho hoje, a idade dela quando me contava SUAS LINDAS E SANTAS HISTÓRIAS, para me fazer dormir ou no lanche da tarde, para que eu enquanto a ouvia comesse bastante.
Lindas e saudosas lembranças que ainda guardo com todo carinho no meu baú de reminiscências e que as transmito aos meus netos com todo afeto e ainda recheadas de poesias e cantarolando músicas atuais dos sertanejos ou temas de novelas, que com os olhos bem abertos, eles ainda me acompanham, cantando também.
Hoje lembrando com saudades daqueles momentos de ternura e encantamento restou-me uma leve dúvida que somente agora, com minha vivência, meu jeito diferente de olhar o mundo, de avaliar e questionar bastante sobre o que a vida nos apresenta, pergunto?Será que minha avó contou todas as histórias que sabia, inventou-as ou muitas delas foram por ela vivenciadas? Havia algum segredinho, que nunca foi revelado? Alguma pergunta que nos escapou, que por nossa inocência, na época não foi questionada?
Quando ao contar minhas histórias aos meus netos, que ainda as faço hoje, sinceramente, são parecidas com as que eu ouvia naquela época tão distante. Entretanto, reservo também alguns segredinhos, os quais guardarei a sete chaves, num cantinho reservado no meu baú de reminiscências.
E as escondo não por razões que possam escandalizá-los, pois alguns já estão chegando na adolescência, mas simplesmente, por achar que poderão rir das minhas pieguices, do meu jeito simplório de viver a vida, naquela época e, agora tão diferente: dinâmica, assustadora em que a verdade parece muitas vezes uma grande mentira, acovardando-nos.
Verdade é que o mundo mudou bastante. Os meios de comunicação dia a dia nos impõe mudanças também e, para não nos determos no tempo e espaço somos obrigadas à reciclagem, para ser evitado o triste isolamento, e vivermos a vida como ela se apresenta saudável: rica em projetos, e termos sempre em mente a alegria de viver.
Sou uma avó do século XXI e sinto orgulho de viver nesta época de radicais mudanças e de tantos imprevistos, de tamanhas atrocidades, de triste miséria e de demasiado desequilíbrio social. A fome assola em nosso rico Brasil. No nordeste e nas grandes capitais estão as maiores vítimas. Os sem teto e sem terra perambulam pelas cidades, pelas estradas, invadindo terras, ocupando espaços patrimoniais: Federais, Estaduais, Municipais, que bastante tem preocupado nossos poderes constituídos. Esperamos que num futuro não muito distante, possam os legítimos proprietários rurais ter o legítimo uso, domínio e posse das suas terras verdadeiramente e pacificamente asseguradas e que aos invasores sejam dados espaços condignos para sua real e não utópica sobrevivência. As nossas matas e florestas estão sendo derrubadas aos milhares. Nossas reservas medicinais são quase todas exportadas, privando-nos do chá caseiro que quando eu era criança, bastante contribuiu para meu fortalecimento e saúde perene.
Já não habitamos em enormes casarões onde pomar, horta, galinheiro fazia nossa alegria.
Levantávamos cedinho e quanta alegria ao pisarmos na grama molhada pelo sereno que havia caído durante a noite. Sentir o cheirinho da terra, que para nós era o perfume inebriante que existia, e ali estava de graça sem necessidade de gastarmos as economias de nossos familiares. Sexo já deixou de ser tabu. Falam hoje com naturalidade e dificilmente fazem perguntas, pois antecipadamente, já sabem as respostas. Insegurança eles a conhecem bem. Nas entradas e nas voltas dos colégios devem sempre acompanhados. Cruel realidade que não será fácil extirpar em nosso meio: É O ONUS DO PROGRESSO.
Nossos dirigentes políticos com cautela e vontade de vencer, empregam todos os meios para minorar os danos, que possam denegrir a imagem do nosso Brasil e muito tem sido o esforço político: São reformas tributárias, previdenciárias, que estão sendo debatidas para equilibrar nosso ter e haver, para melhoria daqueles que não foram tão bem agraciados pela sorte, e para melhor repartir o pão, dando a cada um uma fatia merecida… vivemos dentro de um redemoinho, entre avanços tecnológicos, entre miséria humana, convivendo com assaltos e passivamente nada podemos fazer a não ser a sábia esperança de que tudo irá mudar e que a paz, a fraternidade, a ambição desenfreada e o modus vivendi, voltem a ser como um mar sereno, calmo, quando finda a tormenta. Nas minhas décadas de existência relato aos meus queridos netos, algumas histórias atuais, para que possam melhor, com mais tranqüilidade viver esta época dos avanços, e das muitas vezes malogradas fases de vencer.
Deixo de lado as incertezas para não contribuir com o pessimismo que é vivenciado em muitos lares e confesso: muitas vezes mascaro minha intranqüilidade, para que sejam um pouco amenizadas as carências com que futuramente, eles terão de enfrentar.
Minhas histórias serão sempre recheadas com aquele lirismo encantador, que quando criança minha avó, as contava com o semblante risonho, com muito amor em seus olhos e dizendo suas sábias palavras -o mundo não é e não será sempre um mar de rosas.-Vocês encontrarão dificuldades para enfrentar a estrada da vida, mas sigam sempre em frente, não se detendo em obstáculos. Qualquer impecilho que encontrem pelo caminho contorne-os e olhando para o horizonte. Sigam adiante e o mundo poderá ser àquele que vocês com tenacidade, equidade, fraternidade e honestidade será O LUGAR TERRESTRE A QUE TODOS TÊM O DIREITO DE VIVER, SEJA QUAL FOR O PEDAÇO DE TERRA, ONDE VOCÊS ESTIVEREM.
E os segredinhos? Posso dizer que aqueles segredinhos de minha adolescência, da minha alegre e feliz juventude, daquelas fugidas do colégio para um encontro com o namoradinho na esquina, aqueles beijinhos na matinê aos domingos e ainda aqueles barquinhos de papel feitos com páginas retiradas de cadernos, que ao término da chuva de verão, quando a água fazia corredeiras pelo meio fio da calçada, era como que por meio deles estivesse transportando todos os sonhos, toda a felicidade do mundo, toda esta lembrança ainda conserva com todo carinho, num cantinho privilegiado do meu inseparável baú de reminiscências.
Doces lembranças, Saudável infância. Adorável adolescência que afloram na minha maturidade e que amenizam a intranqüilidade atual, fazendo com que aos anos já vividos que estão sobre meus ombros, são os mesmos que há décadas vivenciei...
Página do livro da autora: A cor esmeralda do teu olhar
Curitiba. abril/2006