Fazer Amor
Eu estava lá, deitado e pensando. Do computador saia uma música que antes já me fizera delirar. Agora era só ‘uma música’. Pegava-me cantando alguns trechos, mas cantando sem vontade. A vontade que eu tinha era de levantar e pirar ou sair e sumir ou até de ir falar com ela. Ela quem? Qualquer ‘Ela’ do passado já bastava. Deitado e pensando e saindo música do computador. Eu tinha uma cama de casal e não entendia o porquê a tinha, mas gostava da ideia de todo o conforto e liberdade que ela oferecia, gostava até da ideia de poder deitar-me nela com alguém. Deitar pensando e ouvindo música no computador. Quando eu pensava nisso e relembrava de muitas histórias e cenas de casais épicos ou até casais amigos eu sentia uma pontada de inveja. Inveja por nunca ter a oportunidade de fazer tal coisa: Deitar pensando e ouvindo musica abraçado com alguém, trocando carinhos e fazendo planos. Não que eu nunca tenha me deitado com alguém, mas parando pra pensar, o sexo era vazio. Era apenas sexo sem sentido. E não é que eu não gostasse. Como homem que sou, apenas sexo vazio já me completa. Mas isso me fez imaginar, ali, agora sentado e pensando, a música tocando, me imaginei ‘fazendo amor’ e não apenas ‘sexo’. Sentir os corpos em brasa, as unhas arranhando a pele, o cabelo sendo puxando, as pernas tremendo, o pescoço sendo beijado, as orelhas sendo mordidas, a barba mal feita arranhando a virilha e logo após, banhado em suor e bêbado em ecstasy, poder pensar que aquilo tudo não foi só sexo. A ideia de existir alguém que tivesse um sentimento recíproco por mim tomava todos os meus pensamentos. Agora levantara para trocar de música e fazia tocar a música que encadeou todos os pensamentos anteriores. Eu gostava de sofrer por dentro, deitado, pensando e ouvindo música.