ADEUS QUERIDA!

Adeus Querida!

Simone Possas Fontana

(escritora gaúcha de Rio Grande-RS, membro correspondente da

Academia Riograndina de Letras, autora dos romances

MOSAICO e A MULHER QUE RI)

Os dois colegas se encontram na sombra de um ipê na Avenida Afonso Pena, em frente ao prédio da prefeitura:

- Bom dia, companheiro! Tudo bem? Parece que está um tanto vexado!

- Bom dia, cara! Vexado?!?!? Estou apavorado!

- Por quê? O que aconteceu? Fala logo! Desembucha!

- Calma! Vou te contar: ela vai embora amanhã.

- Jura? Puxa vida! Depois de tanto tempo juntos.

- É verdade... Ela está comigo a mais de 50 anos!

- Credo! Tudo isso? É uma vida.

- Sim. É uma vida... É tanto tempo de convivência... Ela me conhece por dentro... - concorda cabisbaixo.

- Entendo porque você está triste, afinal foram 50 anos cuidando de sua alimentação, cara!

- Bem... Não é bem assim, porque nos últimos 10 anos ela já estava negligente, tratando de minha alimentação de uma maneira bastante preguiçosa e lenta!

- Não fale assim... Não seja ingrato.

- Reconheço a importância dela em minha vida, mas agora vou dar um basta. Chega! Cansei de sofrer.

- Sofrer? Nunca vi você reclamar de nada! - diz o amigo incrédulo.

- É, meu amigo. Os últimos 10 anos não foram nada agradáveis. Foram muitos sofrimentos. Quero mudar de vida!

- Está certo. Concordo com você! Tem que extirpar o mal pela raiz. É isso aí, companheiro. Se não presta, joga fora! Tenho que ir. Faça o que seu coração mandar e depois me liga para contar. Se precisar de algo, basta me telefonar. Ok?

- Ok, amigão. Obrigada por me escutar. Nessas horas de angústia e carência é muito importante ter a opinião dos amigos próximos. Até mais! Daqui uma semana, quando a poeira baixar, eu te ligo para contar como foi todo o babado.

Depois de despedirem-se, os amigos vão um para cada lado.

O amigo cabisbaixo vai caminhando e meditando:

- Já pensei em tudo. Vou fazer assim: hoje à noite vou deitar-me na cama e vamos conversar, O homem cabisbaixo chega em casa, toma banho, janta e vai para o quarto. Deita-se e a acaricia. Passa a mão levemente sobre ela e lhe fala de maneira mansa:

- Querida, amanhã você vai embora... Não nos veremos nunca mais, mas foi bom enquanto durou. Já está tudo combinado e resolvido.

- Não! Por favor! Não faça isso comigo! Prometo que vou trabalhar direitinho. Não vou mais fazer você sofrer! - parece ter escutado uma voz feminina como resposta, mas continua na sua divagação:

- Por favor, digo eu! Não insista! Adeus, querida! Não tem mais volta, mas não se preocupe, pois será rápido e você nada vai sentir. Amanhã às 13 horas, você vai para o lixo, com um golpe rápido e certeiro, após uma incisão perfeita do bisturi, SUA VAGAL… SUA...

...VESÍCULA PREGUIÇOSA E CHEIA DE PEDRAS!!!!!!

NOTA DA AUTORA 1: kkkkkkkkkk. Foi apenas uma brincadeirinha. Um pouco de humor sempre é bom. O que foi? Não gostou? Não gostou ou não entendeu? Não vá me dizer que você achava que fosse realmente briga de casal??? Ah! Não faz assim! Deixa essa cara feia de lado e abre um sorriso. Agora! Vai! Assim. Gostei. Isso mesmo! Viu como não doeu?

NOTA DA AUTORA 2: Conto escrito em 16/04/2013 – véspera da minha cirurgia para retirada da vesícula.