O Melhor Presente
Chamava-se como o ídolo de futebol que o pai mais admirava e estava destinado a jogar à bola, a ter jeito e talento para o desporto, a crescer a treinar até que, enfim, pudesse ser o que o seu pai não pôde: jogador de futebol. Infelizmente a criança não se desenvolveu como esperavam e quedou-se, raquítica, macilenta, com graves problemas de saúde. Correr não podia, fazer força também não. Assim, protagonizava a desilusão do progenitor como se fosse um castigo ou uma piada de Deus. Armando via os outros jogar, correr e saltar em aparente apatia. Mas, ainda que sempre doente, sobreviveu, leu antes do tempo, desenhava bem, era um menino inteligente, tudo coisas que valiam pouco para o pai. Não gostava de futebol, não queria os pássaros presos, detestava a desordem, sentia as coisas pelo avesso dos consensos e hostilizava os irmãos a quem impedia a captura de aves e o roubo dos ninhos. Fez-se adolescente alheio a tudo o que eram os valores dos irmãos, o seu gosto por jogos violentos, o seu prazer na coleção das aves que punham no enorme viveiro do quintal. O pai tratava-o com distância razão que o levou a pensar não ser um filho amado como os irmãos. Tinha verdadeira mágoa por isso uma vez que a figura paterna era o modelo para a sua aspiração juvenil. Ansioso aguardou pela data de mais um aniversário, o decisivo, aquele que separa os adolescentes dos adultos. Era já homem feito, mais saudável, bonito. Quando o pai o chamou naquele dia receou que, mais uma vez, a conversa fosse desagradável. Em vez disso ele disse: - Hoje fazes dezoito anos e não consegui trazer-te o presente ideal mas quero oferecer-te aquilo que sei que mais prazer te dá. Meu filho, toma a chave do viveiro e liberta os pássaros.