O MÁSCARA

Ele vinha desenhado em rascunho: fala mansa, discurso eloquente, sorriso amplo, disposição ao próximo, mãos descruzadas ao fácil improviso.

O próximo dele nunca me foi muito claro e como gostava de voar pelas aparências, seu próximo talvez pudesse ser o próximo tapete ao alcance de suas mãos.

Era idolatrado pelas superficialidades...dos seus longos voos...

Voava pelos subúrbios das oportunidades, das vantagens desprezíveis, dos cantos de encontros programáticos, da corrupção dos sentidos, da manipulação da boa fé, do furto da consciência fragilizada, da vaidade mais que obsoleta.

Não era jovem. Já tinha um tempo suficiente para amadurecer o Espírito, todavia, destoava entre o que dizia e o que cumpria.

Sempre falava em Deus, mas nunca consegui discernir se nosso Deus era o mesmo. O dele me parecia algo distante da realidade, ficticiamente formatado pelo tapete das atrações mundanas, dessas que qualquer dinheirinho compra, já o meu, no entanto, é um Deus presente no dia-a dia dos atos simples que sem dúvida não pontuam na mídia dos interesseiros e sequer dão ibope à falsa simplicidade dos arrogantes de alma.

Quando lhe enxerguei na sua essência ele lacrimejou lágrimas ácidas e não me foi fácil admitir que existem lágrimas desumanas que nos temperam para que sejamos engolidos mais saborosamente...

Ele não me era nenhuma novidade das diversas vitrines da vida, apenas era mais um fenômeno da incongruência dos falsos sentimentos maquiados. Foi-me ilustrativo aprendizado e forte inspiração literária. Apenas mais um a pontuar nossa passagem terrena a nos fazer entender que absolutamente todos que passam por nós têm marcante função em nossas vidas.

Mas afinal, quem era ele?

Eu não sei ao certo, sei apenas que ele era mais um máscara,e como me foi árduo enxergar a sua verdadeira face...através dos meus olhos com acuidade de coração.