SOLIDARIEDADE

Bio vinha subindo a avenida puxando um carrinho abarrotado de sucatas, quase no fim da subida sentiu que não conseguiria ir ate o final, já era noite, embora a avenida estivesse bem movimentada não havia pessoas a quem poderia pedir ajuda. O carro com peso além do normal começou a voltar, Bio entrou em pânico, se o carrinho descesse a avenida em sentido contrario poderia provocar grave acidente. Conseguiu num gesto rápido jogar as rodas sobre o meio fio, o carro tombou espalhando a carga de todo tipo de sucata pelo passeio e parte da rua. Após recolher o material espalhado pela rua, jogando no passeio, sentou no meio fio para respirar e descansar.

Rex o seu fiel companheiro se aproximou abanando o rabo o olhando com olhos brilhantes, como se falasse: _ Posso ajudar? – Bio o

acariciando falou: _ Obrigado meu amigo, mas esta tarefa não é sua, vou encontrar um jeito de sair desta. -

Antes que ele suplicasse o auxilio Divino, como era seu hábito nas horas difíceis, um luxuoso carro importado parou do seu lado, um homem vestido com belíssimo smoking desceu do veiculo e perguntou? _ O Senhor está precisando de ajuda? – Bio meio sem jeito falou: _ O dia foi bem proveitoso e exagerei na carga, nesta subida me faltaram forças, o carrinho acabou virando, agradeço atenção do senhor, mas se for me ajudar vai sujar sua roupa e te atrasar. – Um jovem também vestido de Smoking que saiu do veiculo falou:

_ isto não é problema, se a roupa se sujar é só lavar, e ajudar um trabalhador em dificuldade é muitas vezes mais importante que qualquer festa. – O homem de Smoking estendendo a mão para Bio, sorrindo falou: _ Meu nome é Antonio este é meu filho Leo, lá no carro estão minha esposa Marta e minha filha Sara, é um prazer te conhecer _ Bio meio encabulado cumprimentou Antonio e Leo.

Os três homens levantaram o carrinho, e quando começaram a recolher as sucatas, Sara também vestida com vestido de festa desceu do veiculo cumprimentou Bio orientando como deveriam usar os espaços.

Em poucos minutos toda a carga foi recolhida da rua.

Diante do olhar admirado de Bio pelo jeito que a carga ficou acondicionada, Antonio explicou: _ Minha filha é especialista em logística e carregamento. -

Sara ainda deu instruções como ele deveria fazer os nós de caminhoneiro para que a carga ficasse firme.

Um veiculo policial vendo o carro importado com o pisca de alerta ligado, parou, o policial perguntou a Antonio o que estava acontecendo. Antonio explicou que estava tudo bem, e os policiais foram embora.

Bio tomou a direção de seu carrinho, Antonio e Leo o ajudaram a terminar a subida, enquanto Marta dirigia o carro importado os acompanhando.

Quando terminou a subida começou uma rua plana, Bio com os olhos marejados de lágrimas, falou: _ Antonio eu nem sei como agradecer a você e sua família esta ajuda, acho que você deve ter sido pobre, porque estando indo para uma festa, parar para ajudar um desconhecido não é comum. -

Antonio afagou o seu ombro dizendo: - Para nós, é uma satisfação ajudar um trabalhador em dificuldade, na verdade a nossa sociedade deveria ficar agradecida a vocês catadores de matérias recicláveis, pois nesta busca por sucatas para ganharem o pão de cada dia, auxiliam muito, evitando que este material vá cair nos rios poluindo ainda mais nossa cidade, você está enganado, nunca fui pobre, nasci numa família muito rica, não sei o que é dificuldades financeiras, o que procuro fazer é praticar os ensinamentos do meu pai.

Antonio enxugou uma lágrima demonstrando estar emocionado.

Meu pai sentindo que estava próximo de partir para a espiritualidade, reuniu os filhos, deu sua última lição dizendo; _” Espero que vocês jamais se esqueçam de tudo que ensinei, lembrem que toda esta riqueza não nos pertence, somos apenas usuários, o dever do forte é proteger o fraco, o rico amparar o necessitado e dividir o conhecimento adquirido com os outros”. Naquela noite meu pai faleceu, deixando um vazio imensurável em nossos corações. -

Visivelmente emocionados os homens se despediram.

Antonio olhou para o alto como a agradecer a oportunidade de ser útil.

Bio também olhou para o alto agradecendo a ajuda inesperada.

A lua como uma testemunha atenta aos acontecimentos. Brilhou varias vezes, aplaudindo a ação de solidariedade.