Pesadelos
Já era duas horas da manhã. Naquele momento, àquela hora da madrugada, ele já perdera as contas de quantos cigarros acendera. Com todos aqueles pensamentos, era a única companhia que o restara. Aquela que, apesar de saber o quanto fazia mal, ele pensava ser a única que pra ele não mentia. Duas horas antes, ele sofrera uma das maiores decepções em seus quase 30 anos de vida: perdera quem acreditava ser o grande amor de sua vida. Apesar de todas as brigas que ele vivenciara, todas as discussões, ele acreditava que, ao modo de cada um, aquela relação estava dando certo. O estava fazendo feliz. Em virtude disso, sentia-se tão desnorteado após a "batalha final". Ele perdera a guerra, aquela não declarada, aquela fria, sem armamentos e derramamento de sangue. Andando sem rumo pelas ruas daquela pacata cidade do interior, não conseguia acreditar que seu sonho chegara ao final.
Ainda caminhando, tentando reorganizar as ideias em sua mente com o intuito de não pirar, ele sentiu na pele as primeiras gotas de chuva. O primeiro estrondo veio para mostrar-lhe que não se tratava de mais uma chuva de verão, apenas mais um breve temporal. Apesar de ser outono - sua estação do ano favorita, aquela em que ele conhecera a namorada - aquela chuva toda veio para pegar-lhe de surpresa; tal qual o fim de sua relação. Desprevenido, mesmo com todos os riscos que corria, ele continuou caminhando, agora encharcado, tal qual seu coração; que chorava, sangrava e não conseguia crer que fosse verdade o pesadelo que estava vivendo.
Algumas horas se passaram. Agora sem nenhum cigarro, nem mesmo dinheiro algum, ele chegou à praça da cidade. E lá ficou. Pensando, repensando, curtindo aquela fossa que se transformara em sua mais nova companhia. Ao olhar no relógio, já eram quase seis da manhã. Ainda estava tudo escuro, sombrio, nebuloso; e chovia. Era assustador. De repente, como que por algum encanto, toda aquela chuva cessou. O céu então se abriu. Ao mesmo tempo em que no horizonte o sol surgia, uma linda figura ele avistava; como se fosse um oásis num deserto escaldante. Ao aproximar-se dela, aquele abraço calou tudo que seu coração ansiava em dizer. E, mesmo depois de uma madrugada fria e que ele adoraria esquecer, o beijo veio para selar tudo o que ele pedira naqueles momentos de angústia. Ele acordara; e, finalmente, tudo estava bem novamente.