Ela.

Ela chegou, mas não me percebeu de imediato. Esquadrinhou rapidamente o ambiente lançando seu olhar inquisitor. Com os olhos semicerrados, procurou entre os rostos desconhecidos uma silhueta amigável. Inquieta, encostou seu dedo no queixo, característica típica dos seus momentos de incerteza.

Rescostei-me na bancada do bar e de modo paciente e apreciativo, fiquei contemplando-a em secreto.

Ela vestia um vestido preto com um corte fino que deixava seus ombros e parte de suas costas descobertos e, com isso, expunha um desenho de uma borboleta que, em seu corpo, ganhava vida e parecia querer voar.

Ela, provavelmente com mil pensamentos rodopiando em sua mente, continuava a procurar. Girou sobre seus calcanhares e seus longos cabelos negros e tão obedientes seguiram-a perfazendo uma curva perfeita. Aquilo foi suficiente para arrebatar meu ar. Quem resistiria a todo aquele encanto?

O barman cochichava algo comigo sobre ela, mal sabendo que era a mim quem ela procurava. Ponto para meu ego.

Quando ela se encontrou de frente para o bar, nesse instante, nesse exato instante, os nossos olhos se encontraram. Um largo e vívido sorriso brotou em sua face abrilhantando aquele rosto claro e doce. Me senti como uma criança, entorpecido, deslumbrado à luz daquela mulher. Aqueles olhos e sorriso provocaram-me uma catarse de todas desventuras e desencontros passados. Conjugado com essa purgação, senti-me vivo.

Fomos nos aproximando passo a passo e o que eu via era somente ela. Tudo ao meu redor parecia se movimentar com uma velocidade insana em contraste com os suaves movimentos dela.

Ela era ela.