Só mais uma noite
Entrar no bar e pedir a sua cerveja, algo que ele não fazia já tem um tempo. Mas como fazê-lo com a vida que tem levado? Trabalhar como um camelo, correr pra casa e ver sua namorada que decidiu que já queria morar com ele e nada mais. Não que fosse ruim ela ter ido. Mas ir ficar alguns meses e acabar tudo? Isso é egoísmo dela. Mas tudo bem. A vida continua e o passado não se muda, o presente não está bom e é no futuro é no que ele quer pensar.
Pega sua garrafa, saí do balcão e vai até a varanda, xingando mentalmente essa maldita lei de não poder fumar tranquilamente. Ao seu lado um casal se olha como se fossem os únicos seres do universo. É bonito de se ver, inspirador. Ela bonita, com óculos, cabelos na altura dos ombros, boca carnuda, um corpo com nada fora do lugar. Ele, um homem com um cavanhaque, cabelos ficando grisalhos e bem penteados, um traje social que sugere terem acabado de sair do serviço. Do outro lado, um grupo de amigos falando alto sobre a vitória do time deles no campeonato de futebol da cidade. Provavelmente, acabaram de sair do jogo. Rapazes corpulentos que pelo modo de agir, tinham mais músculos do que cérebro. Algumas garotas mais próximas ao balcão o encaram e dançam se insinuando. O clima desse tipo de lugar gera muito disso. Mulheres que estão a procura de conhecer alguém, o problema é que raramente encontrarão alguém que realmente valha a pena. O mundo anda tão louco que até dentro de igrejas não se acha mais quem valha a pena. Ao pensar nisso ele sorri e olha mais um pouco ao redor. Um rapaz está caído no canto do bar com os efeitos de achar que tem um corpo a prova do álcool, uma garota vai agüentando a conversa do amigo daquele que está caído, o que pelo visto, não está colando muito, já que ele parece tão bêbado quanto o outro.
Ele leva o cigarro a boca, ascende rapidamente. Uma noite extremamente fria, por sorte sua jaqueta de couro realmente foi um bom investimento. Não se lembra desde quando passou a gostar de andar assim. Mas esse visual “old school” se tornou realmente parte dele, a cor é a cor de praxe dos que gostam do básico, sua calça jeans preta, camiseta , jaquetas e sapatos da mesma cor, seu cabelo em um corte clássico, sem gel, ou nada do tipo, mas bagunçados de um modo que forme o penteado, a barba rala de uns três dias. Não é que ele não se cuide, ou que não ligue pra aparência, mas simplesmente não acha que precise da vaidade extrema que vê nas pessoas hoje. Uma tragada no cigarro e uma olhada para frente, a garota continua o olhando. O que as mulheres vêem em mim? Ele se pergunta.
Ele ainda quer estar com sua amada, não se via mais longe dela. Como será que sua companheira estaria agora? Deitada em casa, assistindo TV, com as amigas num bar, dançando, se esfregando em outro, beijando outro, transando... Ele balança a cabeça e se diz mentalmente que esse pensamento não é da sua conta. E já se irrita consigo mesmo por não conseguir ser o mesmo de sempre. Toma um gole mais da garrafa e percebe que está vazia. Chama a garçonete e pede mais um. Já nem sabe quantos tomou, só sabe que hoje foi um dia de jogar álcool pra dentro. Não está bêbado, mas os sentidos já não funcionam mais tão bem. Ele não assume que passou a ter problemas com o álcool, mas já tem um tempo que não fica sem usar da bebida aos finais de semana, foi como se perder a mulher lhe tivesse aberto um lugar onde ele queria por a bebida. A garçonete volta e lhe entrega a bebida, ele olha pra frente e acena com a garrafa pra moça que insistentemente o encarava. Ela é bonita, morena, com um vestido curto e cabelos longos, corpo bem torneado, seios fartos e andando é como uma modelo. Sim, andando. Ela responde ao aceno vindo em sua direção. Ela vem pra ter uma noite de sexo casual, ele não pode oferecer mais que isso, não pode e não quer se envolver. Ela provavelmente também não quer isso. Nem ela, nem as que estavam esses últimos seis fins de semana no mesmo bar. Todos em busca de uma pequena parcela de felicidade e acordando com um grande pagamento em culpa!