Por-do-sol
No bando da praia a mulher espera pelo por do sol.Aprecia a beleza da luz que pincela com nuances douradas, ao entardecer com a vida pulsando em volta.O cheiro bom das maresia se intensifica com a brisa que sopra vinda do mar, e, como ela prendeu nas aulas de ioga, respira com cadência , sugando o ar pelas narinas e expelindo, com calma, pelos lábios entreabertos.Não é mais uma mulher jovem, porem, faz parte do tempo presente e odeia , quando alguém se refere a ela dizendo; no seu tempo...enquanto houver vida em mim, é meu tempo, costuma responder, secamente.
A aragem tira do lugar alguns fios dos seus cabelos pintados de ruivo.Cabelos, curtos e bem cuidados de uma senhoras que adora a cor vermelha.As unhas de suas mãos, bem como dos pés, calçados na rasteirinha moderna, estão pintadas de um vermelho vibrante, só o baton dos seus lábios finos tem um tom mais claro, para não pesar das rugas do rosto.Ela é detalhista e, embora, não se ache feliz , procura driblar os estragos causados pelos anos.Ano, idade, tempo! O passar da vida é um relógio invisivel marcando nossas horas.Por que esta obsessão machucando os seus dias?Ela vive entre o ontem e o hoje, e por isso muitas lembranças amargas, e, principalmente , a imagem dele estão semp´re presentes.Ela foi e é, o homem de sua vida , embora ele tenha passado rapidinho por ela, mas fez um estrago danado.Algumas vezes ela recebe, por intermédio de alguém, notícias do traíra, tão lindo, tão falso.
Lembranças são como algodão doce, fofo, colorido ou mesmo branco como nuvem efêmera que se dissolve em segundos, mas, que podem retornar.Pensando bem, tudo de bom que lhe aconteceu , foi pasageiro, por isso, a vida sempre lhe pareceu madrasta.Esta contestação lhe fez lembrar de um epitáfio que lera em um túmulo há muitos anos -esta foi madrasta - e, sempre a fez pensar quanta dor e revolta moveu alguem paras deixar gravada no granito, esta terrivel sentença.Apesar de tudo, ela não pode negar que tambem teve muitos momentos de alegria, divertidas viagens, doces ilusões , e tudo mais que o dinheiro pode proporcionar.O que sempre lhe faltou, na verdade, foi um amor verdadeiro, alguem em que pudesse confiar plenamente.Por algum tempo, chegou a acreditar que era amada, tudo mentira, só desejo de um coração carente.Foi tola o bastante para não querer ver as evidências.Pura covardia de mulher convencida e mimada.Criou falsas quimeras e, como um balão cheio de asr, se deixou levar, subiu, subiu e se perdeu no nada.
, Quando o encantamento findou, não houve despedidas.O amor como chegou, se foi.Não aconteceu como em uma velha canção que dizia; na toalha te esquecestes, estava escrito, bom dia!Hoje tão pouco fazem toalhas com mensagens ingênuas, e no piso do seu banheiro, só ficou uma toalha úmida e amassada, que ele inconsequente e egoista, deixou.Saudades cumpridas de curtos momentos.Agora ela pode reconhecer tudo isto, mas tambem, não pode deixar de pensar o que lhe aconteceria se, ao virar uma esquina, desse de frente com aquele homem?Qual seria sua reação?Fingiria que não o reconheceu, seguiria indiferente ou se atiraria, desavergonhadamente,esquecida do seu amor próprio, nos seus braços?Ele tambem estaria envelhecido, já que não eras nenhum Dorian Gray, cujas maldades se refletiam na tela onde fora retratado na juventude.O pior neste encontro hipotético, seria se ele estivesse acompanhado de uma mulher, e o ciúmes doeu forte nela, pontada de punhal.Suposições que maltratam.É melhor agora,prestar atenção na tarde bonita que se desfaz.O mar tomou um tom verde cobalto e o dourado se transforma no lusco-fusco,em sombras, na magia de luz e cores que a natureza oferece, e logo, pode ver o brilho meio apagado, da primeira estrela.Hora de voltar para casa, amanhã, se não chover, voltará a se sentar naquele banco , pensara na sua vida, no que poderia ter sido e não foi, na falta de perspectiva, por culpa do destino ou das fraquezas dela?