Contornando sorrisos

O horário denuncia: pessoas espremendo-se em meio à mãos, braços e rostos que figuram no ambiente. O ônibus dá partida exatamente às 13:30. As pessoas olham ansiosamente para seus relógios , afim de fazerem, numa tentativa utópica, o tempo diminuir. As janelas entreabertas vêm trazendo um agradável frescor de começo de inverno, onde milhões de cheiros misturam-se, causando um certo repulso natural.

Milena corre (sim) para conseguir um lugar. Mesmo com apenas seis anos já possui uma habilidade e esperteza que muitos gostariam. Seu irmão mais novo, Luan, a segue como um guerreiro a seu rei, nesse caso... a sorridente rainha. Luan gesticula em meio a atenção dada às suas balas, afirmando ser o primeiro no vide game quando chegarem em casa. Milena dá uma risada, ciente da supremacia sobre o pequeno: “ Não adianta. Mamãe sempre te coloca pra fazer o dever primeiro. Perdeu!”, fazendo suas amigas ao lado gargalharem e os ossos de Luan enrijecem-se no colo da irmã, calando-se.

Nicolas está cansado. Divorciou-se aos cinquenta e cinco anos, após descobrir uma traição da ex mulher com sua melhor amiga. Seu carro foi para o conserto. “Preferiria me matar a andar todo dia aqui.”, reflete. Não consegue esquecer os momentos que passou com Carlos vinte anos atrás, quando este também lhe deixou. Amargurado na alma e, principalmente no olhar.

O tédio é o principal aliado (ou inimigo) de quem está ali.

Nicolas observa a paisagem como se fosse um filme rodando sua vida em momentos; Milena é girada pelo irmãozinho ao leva-la para outro assento em que possam ficar mais à vontade.

Ele levanta-se, encaminhando-se para a porta de saída, enquanto Milena lhe sorri com todos os dentes pintando o rosto do homem que há anos esqueceu a forma de fazê-lo.

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 10/04/2013
Reeditado em 08/07/2013
Código do texto: T4233992
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