Escola da Vida
-Vamos lá Tiago, manda ver, tá indo muito bem, muito bem- João gritava desesperadamente da beirada do tatame, sua maior estrela estava ganhando a luta sem nenhum esforço.- Isso ao moleque, acaba com ele.-A luta foi encerrada com um belo nocaute de Tiago em cima do oponente. Foi uma belíssima luta, o colégio em peso estava na arquibancada, as meninas loucas para ganhar um beijo do campeão e os meninos invejosos, querendo ser como ele. Tudo parecia ótimo, até o outro dia.
-A senhora não pode permitir isso, como pode! Esse garoto não frequenta as aulas, ele nem mesmo faz os testes, como posso aprovar alguém dessa forma?
-Professora, ele é o nosso principal atleta, se ele for reprovado, perdemos o patrocínio, é o que quer?- A diretora cruzou as mãos sobre a mesa.
-Não me interessa o patrocínio, me interessa o fato dele não frequentar as aulas, não posso admitir isso!-A professora bateu levemente com os punhos na mesa.
-Não se exalte, podemos resolver isso, basta à senhora aprovar o rapaz, simples.
-Não, não vou fazer isso, ou ele frequenta as aulas, ou nada feito.-Ela estava completamente transtornada, não podia acreditar na passividade da diretora diante do fato.-Vou conversar com o treinador dele, espero que ao menos ele, me ouça.
-Sinto lhe dizer, professora, mas duvido muito que vá adiantar!
-Vou ao menos tentar. -Ela saiu da sala, estava com raiva do sistema, com raiva da diretora e com raiva de ser professora num país tão desprovido de base.Saiu pelo corredor, desceu as escadas e chegou até o centro de treinamento do colégio, lá se encontravam meia dúzia de alunos, jovens que deveriam está nas salas de aula, mas estavam ali, completamente suados e machucados pelos excessivos golpes da violenta luta.Ela virou o rosto, estava enojada com tudo aquilo, não podia crer que eles chamavam aquilo de educação, jamais permitiria que seu filho praticasse um esporte tão violento. Com passos firmes, caminhou até o tatame aonde se encontrava o treinador, o homem mal notou a sua aproximação, estava absorto orientando um dos meninos. Ela chegou por detrás dele e lhe bateu levemente nas costas, o homem assustou-se e virou-se.
-Você é o treinador!?
-Eu mesmo, e quem é você?-João colocou-se de pé diante dela.
-Sou professora do colégio, quero conversar com o senhor!-Ela não se intimidou com a estatura do homem a sua frente.
-A respeito!?
-A respeito de um aluno!
-Qual? Temos muitos alunos aqui!-Ele esboçou um leve sorriso.
-Tiago Soares!
-Huum, meu Tiago, belo atleta!
-E péssimo aluno.-Ela ajeitou os óculos para enxergar melhor o homem.
-Ninguém é perfeito, não é mesmo?
-É tudo que tem a me dizer?
-O que diabos a senhora quer? Porque está aqui?- João não costumava ser grosso com as mulheres, mas aquela o estava irritando.
-Quero que o senhor converse com ele, quero que o mande assistir as aulas!
-Porque eu faria isso!?-João a olhou com desdém, quem ela pensava quem era para lhe ordenar alguma coisa?
-Porque é o melhor para ele, ele precisa estudar, precisa ter uma educação descente!
-Por favor, para já com esse discurso, esse negócio de educação e bla bla bla. Ele não quer assistir as aulas!? Problema dele, não posso fazer nada quanto a isso, o que preciso que ele faça é ganhar as lutas, isso ele faz muito bem. Agora, quanto a ele querer estudar ou não, já não é comigo, desde que ele não perca de ano, está ótimo.
-É esse o problema, ele vai perder de ano.-Ela falou decidida.-Se ele não frequentar as aulas, vai perder de ano!
-Olha aqui, se ele perder de ano, ele perde o patrocínio, como consequência, a escola perde verba, eu duvido que a diretora queira isso.-Ele a encarou enraivado-Por tanto, suas ameaças não tem fundamento.
-O senhor acha!? Pois então escute! Se seu querido campeão não estiver amanha, às três horas em ponto, na secretaria, considere-o reprovado. E nem adianta apelar para a diretora, essa não é uma escolha dela. –Ela notou a fúria no olhar do homem, mas não se importava.
-Olha aqui minha senhora....
-O aviso está dado.-Patrícia saiu, não queria ouvir mas nenhum argumento daquele homem, sentia-se mal diante daquela situação. Ela queria que o colégio estivesse ao seu lado, queria que eles tivessem um real compromisso com a educação daquelas crianças, mas eles estavam mais preocupados com as verbas, do que com o futuro daqueles jovens. Se ao menos ela conseguisse salvar esse menino, se sentiria mais aliviada.
Continua.....
Obs: Os próximos capítulos podem se encaixar em outras categorias, mas não se preocupe, é o mesmo texto, com um conteúdo um pouco diferente....