O Pai e o Príncipe - um conto da fada-princesa

“Luana, se você dormir comigo hoje eu conto uma história.”

“ Tá papai, hoje eu quero dormir com você. Você lê o livro dos Três Porquinhos.”

Não sei onde “se esconde” tal obra prima da literatura infantil.

“Então vamos deitar. Eu sei uma história da minha cabeça. Muito melhor...”

“Não papai, você fica na cadeira com o livro.”

“Mas Luana, eu não consigo ler no escuro...”

“A mamãe consegue.” Obviamente, ganhou, ao apelar para a rivalidade paterna-materna. Velho truque...

E lá vou eu, no escuro, procurar o danado do livro que desafia o simples darwinismo biológico, criando um lobo bobo e um porco “Prático”, que cozinha o idiota que supostamente estaria acima dele na cadeia alimentar. Não encontro, Acho todos os livros da Tracy Moroney, do coelhinho das emoções. “Luana, não estou achando. Vamos ler os do coelhinho?” Nem começa a negociação. O “não” é rotundo. Me deparo com o da “Branca de Neve” e tento de novo. Desta vez há espaço negocial:

“Tá bom. Lê na cadeira, hein papai, E todas as páginas.”

Lá vamos nós, no escuro, página por página, puxando pela memória: espelho mágico, rainha (“papai, não é rainha, é madastra! E depois é bruxa”), maçã, anões que dançam ("menos o Zangado").

Improviso: a madrasta é malvada e feia porque come bala, pirulito e McDonald´s. Lua gosta da inovação e eu abuso: os anões são inteligentes e corajosos porque comem cenoura, tomate, peixinho, espinafre, banana, uva (“Brócolis”, diz ela).

Na página do beijo do príncipe, eu abuso: “Chegou o príncipe, inteligente, bonito, corajoso. O príncipe parece até o,,, Quem o príncipe parece?” Ela hesita. Repito: “Luana, com quem o príncipe parece?”

Ela pensa duas ou três vezes. “Com o... o papai...”

Deixo o silêncio reinar por alguns segundos... Cuidadosa, em voz baixinha, ela corrige: “Pai... O príncipe não se parece com você, não...”

“Ué Luana, por que o príncipe não parece com o papai?”

Espero o pior...

“Pai... O cabelo dele não parece com o seu.”

Sinto um misto de satisfação, por ela ter notado que ainda tenho cabelo, com desolação, pela dureza com que a realidade trata um pai dedicado...

“Como assim filha?”

“Pai, é a cor pai. O cabelo dele é amarelo e o seu não é.”

Então tá...

“E aí o príncipe de cabelo amarelo e a Branca de Neve casaram e viveram felizes para sempre,”

Deito na cama e abraço minha princesinha até ela dormir.

Ruís Ferdinando Falsíssimo
Enviado por Ruís Ferdinando Falsíssimo em 07/04/2013
Código do texto: T4228895
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.