O Ubermensch Infantil

31/3/2013

Fim de domingo na rede, relendo, seletivamente, trechos de Nietzsche. Chega o Dudu:

“Pai, o que você está lendo?”

“Esse livro. Leia aqui”

“Pai, esse nome grandão?!”

“É, você sabe.”

“Assim Falou Zaratustra”

“Isso, filho!”

“E o que ele falou?”

“Filho, você lembra o que o Sócrates falou?”

“Só sei que nada sei?”

“Pois é, esse livro aqui foi escrito por um amigo do Sócrates, o Nietzsche.”

“Nietzsche...”

“É. O que significa só sei que nada sei?”

“Que ninguém sabe tudo, pai.”

“Isso! E por quê?”

“Por que tem sempre mais coisas para saber.”

“Isso. Porque quanto mais eu aprendo e mais eu sei, mais eu sei que tem muitas coisas que eu não sei.”

E ele, descomplicando, sintetizando tudo: “Pai... Sempre tem mais coisas para saber porque as coisas são infinitas.”

“Isso. E daí o Nietzsche diz que mesmo assim eu preciso me esforçar para aprender mais, para ser melhor. Mesmo as coisas sendo infinitas, eu posso sempre tentar saber mais, ajudar mais aos outros; que eu consigo se eu treinar, estudar, me esforçar...”

“Pai, a gente sempre pode inventar brinquedos, né? Porque as coisas são infinitas. Então a gente sempre a gente pode fazer um brinquedo melhor. Pode pegar umas coisas e fazer um brinquedo novo.”

“Eu já vi você inventando brinquedos.”

Aparece aquele sorriso mais lindo do mundo...

“Pai... As palavras também são infinitas.”

Pauso... Me vem à cabeça que fazer ler ‘Zaratustra’ pode ter sido demais para um menininho que vai fazer cinco anos. Sinto medo: será que é contra o estatuto da criança e do adolescente?

“Filho, não sei se as palavras são infinitas...”

“Pai, a gente pode ver no google...

Decido ceder. “Filho, acho que você tem razão. A gente mesmo já inventou um monte de palavras novas, né?”

“Lembra da Maite que inventa palavras com o dindo Paulo. Ela mesmo falou um monte pelo skype. A gente pode inventar palavras novas. Aí a gente explica pras pessoas. Para dar os nomes das brincadeiras. A gente pode inventar uma palavra melhor.”

“E se a palavra for nova mesmo, filho, aí a gente é que bota no google para os outros verem!”

Outro dos sorrisos mais lindos do mundo.

Chaga a hora do wrap up... “Então o Sócrates é o do só sei que nada sei. E o Nietzsche?”

“O Nietzsche é o que fala que a gente sempre pode inventar coisas novas. Brinquedo novo, brincadeira nova, com nome novo.”

Está delineada então a definição infantil do Ubermensch...

Ruís Ferdinando Falsíssimo
Enviado por Ruís Ferdinando Falsíssimo em 07/04/2013
Código do texto: T4228879
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