O homicídio e suicídio contra Lúcia Montero
Lucia saiu de casa decidida a se matar. Iria até o centro da cidade, lá encontraria Mortem raticida. " Muitos ratos na minha casa, estou ficando louca com essas pragas, tem Mortem raticida?" " Claro moça, é de maior né?" " Sim", mentiria, " Cuidado caso tenha animais domésticos. aqui está". Pensava ela no caminho. Não haverá falhas.
Algo adentrou- la, matou-lhe o amor, matou-lhe o animo, matou-lhe a vida, matou-lhe a calma. E quanto mais entrava, e quanto mais ela dava ouvidos, mas era invadida, destruída. Desistiu ela de todos, desistiu ela de si. E morta iria se matar.
Lembro bem, ela vinha a mim e a todos com um enorme sorriso, em final de frases risos. Um anjo de animo, otimismo, o mundo precisava dela, cheia de sentimento, amante assumida da vida. De cara percebi, essa não dura muito tempo. Todos temos algo pra enfrentar, ela tinha ela.
Passou na venda do seu tio, um boa tarde disfarçado de adeus. Como estava agitada a comercialização deu ele a ela um boa tarde seguido de um tchau com a mão. Se tivesse a oportunidade de dizer que estava triste a ele, se ele perguntasse, se da boca dele ela ouvisse a frase " Isso é normal, é só uma fase, eu estou aqui sempre" .
Invisível passou nas ruas, não é do tipo que olham. Não é tão bonita, ao menos se fosse tão feia chamaria atenção. Um bom dia quem sabe, uma conversa a distrairia. Sempre tão neutra, passava por olhos que desviavam, sorrisos para outros lados. O sol que batia em suas costas, a tocavam como o frio. Se alguém a oferecesse calor, mas o calor não a cabia mais. É tudo tão perigoso quando está dentro.
Lembrou do bom dia que sua mãe a deu. E do beijo que seu pai deu em sua testa, do ultimo beijo, ultimas risadas dadas , tão falsas. Foram empurradas com tanta força, que até a garganta foi ferida. Ninguém percebeu. Ela precisava dela como era , mas ela não era ela mais, se perdeu em alguma esquina, algum pensamento precipitado, alguma madrugada comum. Ela estava tão sozinha lutando consigo mesma.
Se alguém lutasse com ela, brigasse com ela, a sacudisse, a exorcizasse, ficasse ao seu lado , a agitasse como tantos ela já agitou. Seria tão diferente. Mas as pessoas passam cegas olhando suas próprias vidas, e se contem quando devem ser intrometidas. Ficamos tão feios tristes.
– Muitos ratos na minha casa, estou ficando louca com estas pragas, tem Mortem raticida?
– Claro moça, é de maior né ?
– Sim – Mentiu
– Cuidado caso tenha animais domésticos, aqui está.
Oh pobre Lucia! Que tenha a tu Deus, dia 20 de abril Lúcia faleceu. Dia 20 de abril junto a ela nós a matamos.