NOSSOS DIAS

Mauricio era vendedor de um armarinho atacadista na rua dos guaicurus na zona boemia de BH. O dia todo cruzava com prostitutas, cafetões, batedores de carteiras, policiais corruptos, policiais honestos, mendigos que foram cafetões, policiais corruptos ou honestos que agora eram alcoólatras nos bares da região. Das sete da manhã às oito da noite a mesma coisa durante vinte anos, a mesma decadência. Sua mulher o trocou por uma trocadora do ônibus de seu bairro, seus filhos se mudaram para São Paulo.

Um dia Mauricio foi subir a escada que levava ao deposito, deu uma pequena torção em seu pé, mas continuou a trabalhar. No dia seguinte sentiu que seu pé estava inchado e dolorido, ligou para seu chefe dizendo que iria ao medico. Passou-se quinze dias e Mauricio não retornava ao trabalho, enviava seus atestados via correio. Passou-se seis meses e o pé continuava na mesma, mas o raio x não mostrava nada e isso intrigava os médicos.

Passou-se dois anos e nada do pé melhorar. Mauricio não saia de casa mais, pois alem de torcer o pé ele havia torcido a vontade de dividir seus passos na rua com tanta desigualdade e violência das ruas e seu pé se negava a andar em meio ao terror que caminhava na cidade