A Fera
Hoje, me calei para poder falar palavras que só o silêncio conseguiu dizer. Sentei e chorei em silêncios meus gemidos comportados no peito. Observei. Refleti. Parei e voltei meus olhos para as minhas ações, atitudes remotas, sentimentalismo bandido. Cantei minha dor com um sorriso calado nos lábios. Pincelei em meus olhos, ofuscados, a realidade vivenciada por mim naquele momento. Borrando-a em seguida com as minhas lágrimas ásperas que me perfuravam a alma. Meu coração desalinhou, cambaleou e caiu. Respingou suas gotas de sangue em minhas mãos. Senti escorrer por entre os dedos quente. Não fugi, fiquei ali e engoli a seco a situação que parecia surreal para mim. Aceitei a condição, encarei os fatos e contra-argumentei em minha mente em busca de uma solução plausível. Encarei a fera de perto, ali bem diante dos meus olhos. Aproximou-se verozmente, e fiquei de cara com seus olhos vermelhos-sangue. Acompanhei seus passos retilíneos e antes do seu ataque, dei minha última investida. Aquele era o meu leão-do-dia e eu precisaria vencê-lo antes mesmo de morrer, nem que para isso eu precisasse morrer tentando. Precisava retirar as areias que me impediam de mover-se em direção ao alvo. Precisava encarar e derrotar a fera que habitava dentro de mim e relutava pelo controle. Precisava me vencer e tomar de uma vez por todas o seu lugar.