Um Dia Escuro
Trazias a noite contigo. Olheiras, o ar carrancudo, o jeito prepotente de estar. Ciúmes, inveja e o nosso amor mal resolvido. Como se pode ter tanta coisa escura no modo de chegar? Como pode, alguém, suportar um dia como aquele, pesado como chumbo, pesado de gente com medo de te magoar? Como se resiste num tão inóspito clima? Como se aturam os teus impropérios de pura frustração? É difícil, acredito, mas depois do estrondo da porta a definir o grau da tua raiva, urgia que quem te amasse fosse ajudar. Bati de leve, escutei. Trovejaste a resposta e eu entrei no teu céu fechado e dei contigo desfigurada naquele fim de luz. – Fora – gritaste. Não quero ver nada, não quero ninguém! – Nem eu? – Perguntei. Perante o silêncio, fiquei. O dia clareou na janela e trouxe á nossa mudez o tom da paz, suave, lento, morno. Amoleceram-te os gestos e o sorriso voltou. – Eu sei que és a chefe, disse-te, mas hoje, aqui, mando eu. Não suporto ver mulheres bonitas fechadas num dia triste sobretudo se sou eu a nuvem escura. Vim dizer que te amo. Saí.