BULLYNG II X GESTÃO ou (OS MENINOS DE JALECO AZUIS)

Um dos meus grandes sonhos de rapaz sempre foi usar um daqueles jalecos azuis da Escola Técnica Barão de Mauá situada no bairro de Marechal Hermes no rio de janeiro.Sempre que eu via aqueles jovens passando com seus uniformes, pareciam cientistas, feras da tecnologia aos meus olhos sonhadores.

Um belo dia eu resolvi pedir uma informação no portão de entrada da Escola Técnica.Eu cheguei com meus cabelos longos, ainda moda naquela época e, adentrei o recinto que estava apinhado de alunos daquela Instituição.Isso foi em 1975.Eu estava perto de me alistar no quartel.Pois bem, parece que eles gostaram muito de me ver, pensei até que estavam me esperando.Eles se acercaram de mim e já de tesoura em punho começaram a cortar o meu cabelo.Eu disse que não era calouro e que queria só uma informaçãozinha...mas eles nem ligaram, queriam mais era se divertir e eu caí como uma "luva". Como eram muitos e eu um só, fiquei com muito receio de tentar fugir e aquiesci.Levaram-me bem mais lá para dentro do campus, um deles disse assim: ..."eu vou ficar aqui como se estivesse filmando, você sobe naquele monte e quando ele ali atirar com sua suposta espingarda, você dá um grito pondo a mão no coração e cai ao chão e rola até aqui onde eu estou, se fizer bem a cena a gente te libera, ok?"...eu fiz a primeira, a segunda, a terceira, cheio de esperança de ir para casa, já repleto de capim grudado em minha calça jeans surrada...mas que nada...porque o suposto "diretor" dizia: corta!, corta!, repete mais uma vez...e eu perdi até as contas de quantas vezes eu ia lá em cima e despencava, enquanto as moças e os rapazes gargalhavam.Contando assim eu sei que dá vontade de rir mas é que você se sente acuado e sem alternativa alguma, até mesmo porque eu não tinha ingressado na Escola.Para eles era tudo muito divertido mas o que eu queria mesmo era ter ido logo para casa, e o pior é que não aparecia um coordenador, um agente educador, qualquer responsável que impedisse aquele trote que nem tinha razão de ser porque afinal de contas eu tinha ido ali apenas para pedir uma informação.Quando entrei no ônibus os passageiros olharam para mim e parece que se assustaram com o meu aspecto.Eu também me assustei olhando a fisionomia deles.Em minha casa todos se assustaram.Eram pequenos montinhos de cabelos espalhados em minha cabeça.Mas isso tudo já passou e só me serve hoje para contar para os meus netos e leitores do recanto das letras.Espero que isso nunca aconteça com um de vocês mas se ocorrer tenham paciência e esperanças.Eu tive sorte de não ter ocorrido coisas piores como ocorrem nas grandes instituições de ensino do país, casos até de mortes.De não ter pego um pedaço de pau ou uma faca para me defender, na certa depois me usariam como mais um "cristo", e o brasileiro adora essas coisas, pegar alguém pra "cristo", ele pede justiça mas não sabe nunca ser o justiceiro.Usar o bom senso e a perspicácia.Acredito piamente que o carioca é o prim eiro lugar nesse tipo de coisa e apesar de ser carioca da gema sou uma exceção.

.Depois que terminei a cena do bandido atingido por um tiro fizeram-me vestir as calças pelo avesso, depois subir em um poste, depois rastejar por dentro de uma manilha, depois contar piadas para que todos pudessem rir, por último pintaram o meu rosto e me liberaram, mas tudo aquilo pareceu um tempo interminável, saí perplexo, assustado, trôpego e desapontado, porque a partir daquele dia eu não mais senti vontade de fazer parte daquela instituição e nem de vestir aquele jaleco azul que eu tanto admirara.

As vezes hoje eu me pergunto, quem realmente é o gestor de uma escola ou universidade, o docente ou o discente ? os valores realmente estão mudados, não caberia a mim responder, pois não possuo tamanho cabedal de conhecimentos, nem sou juiz para julgar, mas cabe a opinião pública se preocupar em responder. Alguns dirão como sempre que isso aqui é Brasil. É, ainda bem.

Isso é um conto real, aconteceu comigo;pode acontecer com você também, só espero que você tenha a cabeça que eu tive e não faça nenhuma besteira.O que eu me arrependo é de não ter tomado nenhuma atitude, mas fica a dúvida, será que valeria a pena, será que me levariam a sério? Afinal de contas eram apenas meninos vestindo jalecos azuis e se divertindo um pouco com outro menino que aparecera no momento errado no lugar errado num dia de sol e céu azul de brigadeiro.