Gente que sobra...

Tem gente que diz que tudo que sobra é resto e tudo que é resto é lixo. Não acho não.

Talvez coisas que sobram sejam resto. Talvez, ainda tenho que pensar sobre.

Tem horas que gente diz: ó sobrou um ovo, alguém quer?... Não é resto, lixo. É um ovinho que sobrou. É tão gostoso.

Quando gente gasta muito dinheiro e pensa não ter sobrado nada e vê que sobrou. Não é resto, não é lixo. É alegria da economia encontrada.

Tem vezes que gente diz: sobrou um espaço para mim aí? E gente entra e fica apertado e cabe mais um. Não é resto, é aconchego.

Quando gente diz: não sobrou tempo de falarmos mais. Não é resto, não é lixo. É falta de tempo para falar tudo.

Então não consigo ver sobra como resto, lixo. Não consigo.

Ás vezes gente sobra. E gente quando sobra também não é resto, não é lixo. Sobrou. Apenas. Não é resto. Não é lixo.

Ás vezes gente quer ser aceita, mas não entende que outra gente não sabe, não quer, não compreende. Sobra gente com certeza que pode fazer outra gente feliz, mas não pôde.

E aí gente tem que deixar para lá, deixar de lado, deixar o tempo passar...Deixar sobrar tempo para pensar...

Não é resto, não é lixo. É sentimento que sobra no peito e gente não sabe o que fazer.

Gente ofereceu... Mas tem gente que sobrou tanta mágoa, tanta cicatriz no peito, que não sobrou espaço para aceitar. Não sobrou espaço para recomeçar e quem sabe ser feliz.

Não sobra entendimento para tentar. Então gente tem que sair, desistir. Tem que deixar tempo de sobra para pensar. Sobrou. Mas não é resto. Não é lixo.

Ás vezes sobra muita dor. Quando sobra muita dor, ás vezes não sobra sequer lágrimas. Dói tanto que não sobram lágrimas.

E dor não é resto, dor não é lixo. Dor é dor. Dor é história. Não é resto, não é lixo. Dor é sentimento que sobra no peito de gente que sobra. Não é lixo.

Agora, o que dói mesmo é quando sobram 2 pratos vazios na mesa...

Sobra certeza que gente não quis aceitar. Sobra certeza que gente não quis aparecer. Sobra certeza que gente escolheu ficar com outra gente.

Sobram roupas compradas que nunca serão usadas. Sobra vinho que não será degustado. Sobra espaço vazio na cama arrumada. Sobra a nossa música numa futura memória apagada.

Sobram perguntas. Sobram vontades, sobram sentimentos que não puderam ser compartilhados. Sobram dúvidas se esperanças devem ser renovadas. Sobram histórias que não serão vividas, nem contadas.

Sobra vazio. Sobra coração machucado. Sobra solidão...

É, pensando bem, quando sobram 2 pratos vazios na mesa sobra um resto, um lixo... O macarrão que gente não conseguiu comer sozinho... É isto, o macarrão que gente não conseguiu comer sozinho não é sobra. É resto. É lixo.

Gente que sobrou, sobrou machucado, ferido, mas não é resto. Não é lixo. Sobrou.

Nem tudo que sobra é resto. Nem tudo que sobra é lixo.

Gente que sobrou não é resto, não é lixo. Definitivamente.

Leila Costa
Enviado por Leila Costa em 01/04/2013
Código do texto: T4218561
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