LIBERDADE,JÁ (EC)
Vovó,olha que bonitinho, ele caiu da árvore. Posso ficar com ele?
- Ah, Tunico, a vovó já lhe explicou que os pássaros pertencem à natureza. Podemos ajudá-lo a se recuperar e depois ele ganha os céus. Vamos arrumar um cantinho para ele.Pegue a caixa de sapatos e vamos fazer uma caminha bem aconchegante porque a noite está prometendo ser bem fria.
A felicidade de Tunico ao ajeitar a casinha comoveu Beatriz e uma nuvem embaçou seus olhos.
Pássaro acomodado foram jantar, rezar e dormir. Ele, cansado de tanta estripulia dormiu logo mas Beatriz estava inquieta. Pensamentos sombrios a incomodavam.
Sua única filha tivera complicações no parto e morreu dois dias depois de Antônio nascer. O pai do menino ficou desarvorado e sumiu no mundo. Tunico foi criado por Beatriz e pelo avô João que veio a falecer três anos depois do nascimento do neto.
Os dias passavam, o pássaro ganhava novas penugens e não demoraria muito para alçar voo.
Tunico continuava encantado e triste ao mesmo tempo. Beatriz não comentava mas estava ansiosa para que ele voasse e saísse de vez de perto de seu neto.
Era pássaro que pressagiava o mau. Trouxera angústia desde o primeiro dia. Todavia, como explicar a uma criança seus sentimentos?
Certo Domingo a comadre Helenice foi almoçar com eles e ela se abriu. Contou suas aflições e,para sua surpresa, a comadre deu ótimas risadas.
Ah, Bia, como pode uma mulher esclarecida e inteligente como você acreditar nessas coisas?
Esqueça isso. Tunico está tão feliz...
A noitinha a comadre foi embora mas Beatriz não ficara convencida.
Dois dias depois.
- Vovó,vovó, corre aqui ele está tentando voar mas eu não quero que ele vá- gritava Tunico.
Quando Beatriz chegou à porta da cozinha para atender o pedido do menino foi surpreendida por dois homens.Um deles estava armado.
- Aí,tia, fica caladinha. Vamo levá a senhora para um passeio.Pega o cartão do banco e a senha.
Apavorada, Beatriz não esboçou reação e foi empurrada para dentro de casa pelos bandidos e quase desmaiou quando ouviu a voz de Tunico - Vovó, vem logo! Ele quer voar.
- Quem tá em casa, além do moleque? Responde logo,ameaçava um deles.
- Somente meu neto de cinco anos mas não façam mal a ele. Eu vou com vocês e dou tudo o que tenho,implorava Beatriz.
Os bandidos concordaram e quando iam saindo viram Tunico segurando o pássaro entre as mãos.
Beatriz, apavorada, correu ao encontro do neto.
Um dos bandidos apontou a arma para os dois.
O outro gritou:
- Atira, logo porra! Acaba logo com eles e vamos pegar a grana da coroa.
- Não posso, cara!
- Por que, cara? Me dá essa porra que eu termino o serviço.
- Não! Lembra que te falei do meu filho?
- O que morreu na enchente?
- Ele amava pássaros. Tinha um desses aí. Eu não posso...
- Tá legal, irmão. Vambora, então!
Os dois pularam o muro e fugiram.
Horas depois...
Agora podemos ficar com ele, né vovó...ele salvou a nossa vida - ponderou Tunico.
- Você acha que ele seria feliz morando sozinho numa gaiola apertadinha?
-Eu cuidarei bem dele, prometo! Ele será feliz!!
- Se quer vê-lo feliz, solte-o! Deixe-o ganhar os galhos das árvores e juntar-se aos outros pássaros.
Tunico pensou pensou e terminou concordando.
Avó e neto bateram palmas quando o pássaro Salvador alçou voo e ganhou o primeiro galho da mangueira que sombreava o quintal.
Este texto faz parte do Exercício Criativo (EC) sob o tema “Pássaro de mau agouro”, outros textos versando sobre o mesmo assunto são encontrados neste link: http://encantodassletras.50webs.com/passarodemauagouro.htm.