Legado de Família
O grupo de amigos está sentado na esquina conversando. Cinco caras que se conhecem desde a infância, que bagunçaram na adolescência e agora que a vida adulta chegou, eles vão compartilhando as suas experiências. Aquele, típico “papo-de-homem”. Thiago, o “maromba” do grupo, começa a caçoar de Marcos, que é o “filhinho de papai”, da galera. Falando do seu corpo franzino, quando se quisesse o pai pagaria as melhores academias pra ele. Por sua vez, Pedro, troca mensagens no celular com a possível nova garota que ele irá, chegar, beijar, iludir e desaparecer. Esse era o galinha do grupo. Sempre solteiro e nunca sozinho, mas os amigos sabiam que por trás da fama tinha ali um cara magoado demais com a primeira namorada e com problemas de confiança. Ser traído muda um homem em aspectos muito complexos. Valter é a base da galera. Todo grupo sempre precisa de um. Aquele cara que é o conselheiro, a mão estendida, o que se mantém sempre perto de todos e que nunca se poderá deixar de ter contato. E Sidney, o intelectual, o cérebro do grupo. Mas estranhamente, o mais charmoso. Enquanto Pedro, sempre precisa se esforçar pra conquistar as meninas, Sidney apenas conversa normalmente. Ele as encanta. Sabe falar mais do que “Nossa, você é linda”, e diferente de seu amigo pegador, ele não gosta de divulgar o que faz. Nem pros amigos ele fala das garotas. Um dia quando caiu na besteira de fazer isso, a notícia correu, a garota era a filha do pastor da igreja que sua família ia. E por mais que ela não o fosse, a imagem da vizinhança era de que a menina era a própria pureza. Como os pais dela ficaram sabendo, e acabou virando um escândalo para a imagem do pastor, que não cuidava nem da filha, quem dirá da igreja. O assunto foi levado ao seu falecido pai. Essa foi uma das últimas conversas que tiveram. E lembra-se claramente do pai o chamando no sofá.
-Sid, filho você viu a merda que isso virou? – Falou o pai, não com tom de quem briga, mas aquele tom didático, de quem agora vai simplesmente explicar algo.
Sidney, sempre gostou disso no pai. Enquanto a mãe é estourada e chega logo xingando todos os nomes, com o chinelo na mão e a raiva na boca, o pai, sempre senta e explica as conseqüências das ações. E ele sempre aprendeu com isso.
- Eu vi pai, mas poxa, ela não vale nada. Ela que veio pra cima de mim. A mina é louca, e ainda é mais pirada que atriz pornô. É que você não viu... – Sidney responde indignado de ter que ouvir sermão pela vagabunda da menina que o atacou no banheiro da igreja, sem respeitar em nada o “lugar sacro”.
- Sid, entenda uma coisa. Eu estou conversando, não pelo que você fez, nem pela igreja, nem pelo palhaço do cara que se diz pastor e é pai e marido de duas piranhas. Eu to te chamando pra te dar uma lição que servirá pro resto da sua vida. Antes de eu falar, só me diga por que você contou que tinha pegado ela de todos os jeitos “não santos” no banheiro?
- Ah, pai. É normal, todo mundo fala. O Thiago, Marquinho, o Pedro, e o Valter. O problema é que o Thiago, é legal, mas o que tem de músculo no braço, também tem de falta de cérebro. Daí saiu falando pra levantar minha moral e deu nisso. – Explica o garoto de 17 anos, sem entender onde o pai queria chegar.
- Sid, foi bom ficar com a filha do pastor?
- Lógico pai. É sexo. Como pode não ser?
- Ahh, isso você vai aprender um dia que realmente pode não ser. Mas se não tivesse dado todo essa repercussão. Você iria querer repetir?
-Ah, pai. Eu ia. “Cê” tá maluco. Pai, aquela mina “faz loucuras”. Eu quase nem agüentei. Sorte que eu uso aquelas camisinhas que demoram mais que você me deu. Se não fosse ela, eu nem duraria nada.
-HAHAHA, esse é o meu garoto. Vou te ensinar o que seu avô não me ensinou. Mas, por sorte seu tio Jack sempre soube das coisas.
-Tio Jack? O que é?
- Um homem de verdade, não fala das suas mulheres, Sid. Nunca, sob hipótese alguma se fala.
- Mas pai, eu vou passar por “pega-ninguém”. Pow, nem rola.
- Acredite, você nunca passará por isso. Você não precisa mentir, que não o fez. Mas você não deve nunca falar. Quem não fala se diferencia, se torna confiável. E assim você tem mais vezes já que ela confia em você. E tendo mais vezes, quem sai no lucro é você. Mulheres também conversam de sexo, Sid. E quando uma fala, a outra quer. Adivinha quem lucra?
Sid olha pro pai enquanto vai vendo que existe lógica no que ele dizia.
- Mas como assim não mentir e também não falar?
- Sid, se esquive das perguntas. Eles falarão e você deve sorrir, aquele sorriso de quem esconde um segredo. Não minta, apenas omita. Se insistirem, você repete a frase do seu tio. “Um homem de verdade, nunca fala”. Sempre deixe as pulgas atrás da orelha. Sua fama vai existir sem você promovê-la, as mulheres sempre verão que você é na sua, e elas mesmas acabam falando. Daí, sim. Se elas disserem, você confirma. Afinal, ela é a parte que precisa manter a imagem e sabe as conseqüências de falar.
Nesse momento a mãe de Sidney aparece.
-Já falou com esse moleque? Não respeita nem a igreja, esse filho da puta! Ai, ele parece seu irmão. Como eu odiava aquele jeito dele de ser fazer de sonso... – ralha a mãe, fazendo Sidney sorrir, sabendo que ela sempre fala que seu tio é um caso perdido e que não sabe como ainda não teve filhos.
- Já falei sim Rita. O Sid já aprendeu a lição dele, espero eu. Disse que nunca mais ouviremos falar de nada que envolva sexo dele com mulher que não seja a futura esposa. – Fala o pai, soltando uma olhada de cúmplice pra Sidney, deixando sua frase com duplo sentido no ar.
- E o castigo?
-Sem sair de casa os finais de semana dois meses.
Sidney olha para o pai. Já assustado. Mas ali ainda não sabia que ele, iria todos os fins de semana, fingir pra mãe que levaria o garoto pra pescar, e soltá-lo com os amigos por aí.
Seu pai faz muita falta. Era mais que um pai. Foi um amigo. Ele tinha um jeito de conseguir o respeito das pessoas que era só dele. E como se fosse um profeta, ele realmente tinha adivinhado o que aconteceria com a fama de Sidney. O garoto tinha seu jeito, tranqüilo, inteligente, educado e tudo o mais. Só que raramente estava sozinho.
Agora o assunto dos rapazes era Paula, a nova vizinha de Sidney, que todos já tentaram conquistar, Pedro gastou quase dois meses direto sem dar descanso pra garota e não resultou em nada mais do que um “vamos ser amigos”. Thiago se exibia na academia, Marcos se mostrava com as coisas que tinha, seu carro do ano, suas roupas, restaurantes e nada. E o Valter ficava de lado dessa brincadeira, já que foi o que casou cedo. Todo mundo se perguntando quando Sid iria pra cima da mulher. Então seu celular, tocou. Ele se afasta do grupo, atende e volta rapidamente.
-Galera, está tarde, eu preciso ir que amanhã levanto cedo.
- Sempre a mesma coisa, o celular toca. E tu vai embora. Porra “véi”. Quem é a mina que ta te dominando? – Fala Thiago
- Tem uma aí. Mas ainda não dá pra falar. Vocês vão ficar aí?
- Sim, vamos. – Diz Valter.
Sidney foi embora e quando chega na rua de casa, vai até a casa ao lado. Bate a porta. E saí ela. Paula, a loira, de olhos claros, corpo escultural e uma camisola preta que valoriza muito bem tudo.
- Demorou amor. – Diz a beldade loira
- Eu tava com a galera. Você foi assunto de novo. – Responde o rapaz
- Ah, quando a gente vai abrir pra todo mundo? Eu quero andar de mãos dadas, passear por aí, mudar meu relacionamento no facebook. Essas coisas que são bem de menininha, mas eu gosto.
- Amor, Já estamos nessa a 6 meses. E eles tem sido ótimos, mas me diz. Por que eu? O Thi, é o sarado, o Marquinho é o que pode te dar o que quiser, e o Pedro eu nem falo , porque ele não me oferece perigo em nada.
- Ah, amor. Eu cheguei aqui. E vi vocês todos na frente de sua casa. O Thiago, tentava aparecer, sempre num ângulo que exibisse os músculos pra mim quando eu passava com os móveis da mudança. O Marcos olhou pra mim e não quis ajudar porque sujaria sua roupa de marca com os móveis. Não que eu ligasse pra ajuda, mas falar isso pra mim é meio fora de contexto. E o Pedro, falou comigo, olhando pros meus peitos, ligou pra uma garota depois, marcou rolê pra noite e depois uma outra garota da rua veio e ele a beijou. Tudo em menos de uma hora.
-Tá. E eu?
- Você chegou, perguntou se eu precisava de ajuda. Não fez nada mais que o normal. Foi o único que não me tratou como um pedaço de carne e também depois de umas semanas que peguei amizade com as meninas. Ouvi tanta propaganda boa sua que, foi necessário provar.
-Bem, hoje eu trouxe amostra grátis, meu anjo. E amanhã é o dia de mudarmos o face então. Já ta me fazendo ciúme eles falando de você. – Sidney diz sorrindo e indo mais perto da moça.
Os dois se beijam, entram e Sidney, mais uma vez agradece mentalmente ao seu pai. Pelo conselho recebido na adolescência.