FIZERAM MAL PARA A MOCINHA

Jovelina, fia de nhá França, tava chegando nos 23 anos e só agora tinha pensado em arrumá home pra namoricá.

Joaquim Preto Pançudo, era trabalhadô, não tinha medo de cabo de enxada, nem de foice ou machado, quarqué tiguera virava coivara em questão de hora nas mão do camarada. Roçava e capinava um pedaço de terra como ninguém.

Jovelina era moça prendada. Sabia cuidar da casa e na tina de roupa era lavadeira das melhor. No fogão era capaiz de fazer um cuscuz de milho e uma pamonha de lamber os beiço.

Foi daquela veiz, lá em Parmitos, que Joaquim Preto olhô de modo diferente pra Jovelina. Nunca havia arreparado na formosura da moça. O sanfoneiro tocava e cantava uma moda que falava de uma bela sertaneja. Parece que a canção era feita pra Jovelina.

A mocinha tinha boa criação. Nhá França soube educar a Jove como menina de boa famía, frequentadora de missa e que rezava todas as noite antes de deitá.

– Cuidado com o bicho home, ensinava a mãe. É bicho perigoso.

Mas não carecia de muito cuidado. Jovelina era moça séria e não dava mole pra marmanjo.

Das vez, Jovelina sonhava aquelas coisa feia, mas afastava os mar pensamento lembrando da Ave Maria. Rezava um Padre Nosso e um Sarve Rainha pra mode afastá as tentação.

Despois que começou a se encontrá com Joaquim Preto, deu de sonhá mar criação. Parece que o caramunhão tentava ela.

Nos domingo, lá ia Jove confessá pro padre seus pensamento ruim.

- Padre, sonhei que tava pegando no Quim. Acordei chorando, sentindo curpa.

- Jovelina, minha filha! Fique calma. Isto é natural na sua idade. O importante é não se entregar às tentações. Reze para o seu Anjo da Guarda para que ele sempre te auxilie a ser forte.

Jovelina escuitava o que o padre dizia e aquela prosa lhe acarmava os nervo.

Era 13 de junho, dia de Santo Antônio, santo casamenteiro. Jove arressorveu fazê um pidido pro Santo; queria casá com o Joaquim Preto Pançudo. Acendeu uma vela e rezou baixinho:

Meu Santo Casamentero

Quero fazer um pidido

Já se passô um ano intero

E num arrumei um marido

Que seja home sortero

E também um bom partido

Eu preciso me casá

E ser muié parideira

Ando até atentada

Loca prá fazê besteira

Me ajude bom Santo Antônio

Não quero ser mar falada

Sei que prá isso tem cura

Mas por favô não demore

Pra eu não entregá a rapadura

Ocês sabe que Santo ouve as prece rezada com fé e, tarveiz, a fé da Jove não fosse tão grande. Vai daí que o tempo foi se passando e nada do Joaquim Preto se manifestá. Era a tar da timideiz. Não carecia ter vergonha, mas Quim ficava vermeio quando ficava a sóis com a coitada da Jovelina.

Os dias foram se indo e uns trêis meis despois Jove tava vortando da roça quando teve um pressentimento de que estava sendo sondada. Já tava escuro, mas parece que tinha avistado arguma coisa por de trais da capoeira. Ela sentiu medo. Será que era Sombração? Tarveiz o tar do lobisome que diziam que andava rondando a fazenda.

Apressô o passo a mode tomá distância. Foi quando ela tropicô numa raiz e desbarrancô, caiu. Num teve tempo nem de se alevantá. Sentiu que arguém se montô nela e ergueu sua saia. Tentô reagi, mas os braço que lhe agarrava eram fortes. Num cunseguiu resisti. Foi tudo tão rápido. Quando ela viu o serviço tava feito.

Jovelina chegô em pranto e correu se escondê no quarto. Não queria que ninguém soubesse daquela disgrameira.

Deitada na cama Jove ficou a lembrá de Joaquim Preto. Ele nunca mais iria querê sabê dela. Ia pensá que ela era muié dama, desavergonhada. E se ficasse prenha? Benza Deus! Num queria nem pensá nisso.

Os anos se passaram e Jove nunca mais quis sabê de casá. Oiava com vergonha prá Joaquim. Já pensô se ele descobrisse o acontecido? Ele nunca iria acreditá que um desconhecido teria feito aquilo à força, no escuro, sem ela querê.

É! Mar sabia ela como pesava na consciência de Joaquim Preto aqueles acontecido.