Um Outro Midas
Na fúria de trabalhar, construir, fazer grande e diferente, atropelaste muita gente. Impiedosamente. Sem regras nem respeito gastaste muito tempo a fingir que não vias. Apertavas a mão a um mas miravas já o seguinte da fila dos que tocavam a tua vida e eram de interesse potencial. Valia só o proveito, o lucro e a vantagem e fizeste, portanto, todos os jogos baixos que foram necessários para vencer. Tudo trataste como um negócio do casamento aos filhos, da escolha da casa aos amigos. Estás rico. Muito rico. A verdade é que, pela primeira vez, te perguntas se valeu a pena. Os filhos saíram de casa e nunca voltaram e a tua mulher morreu sem que lhe sentisses a ausência. Queres, pedes, tens. Tudo te aparece de maneira profissional, impecavelmente desempenhado. Temem-te. Tocaste os teus limites e tens, agora, mais tempo para sentir mas não tens a quem amar nem quem te ame. Aprendeste, finalmente, que ficando o dinheiro no Banco, o carro à porta e a roupa no cabide, terás de valer nu. E já não vales. Envelheceste.