...O oposto dos opostos...
Acho incrível a forma como os homens se sentem atraídos pela minha timidez. Percebi que quanto mais eu finjo não ser notada, não ser paquerada, não ser observada e admirada, mais eles fazem questão de se aproximar.
Tem certas ocasiões em que eu me divirto com as táticas e estratégias utilizadas por eles como forma de chamar a minha atenção. Esbarrões, comentários sem graça, brincadeiras bobas, gentilezas em excesso e elogios exagerados. De fato, essas artimanhas normalmente dão certo com a maioria das mulheres, mas comigo, o cara não precisa nem chegar perto de mim, o simples fato dele me olhar de longe, já é motivo para que eu fique com vontade de sumir.
Não me considero uma mulher bonita. Mas também não me acho feia. Tenho uma beleza comum com um toque de sensualidade. Na verdade, não sei o que é atraente em mim. Talvez sejam os meus olhos, ou, o meu jeito de olhar. Talvez seja minha boca, ou, o meu jeito de falar. Talvez sejam minhas pernas, ou, o meu jeito de andar. Talvez seja eu, ou... a minha timidez mesmo.
Enquanto algumas mulheres fazem de tudo para serem notadas, eu faço o contrário para passar despercebida. Mas raramente isso funciona. Ser notada me irrita, me incomoda. Quando percebo que alguém me olha, eu perco os sentidos, eu fico atrapalhada, perco a concentração, eu literalmente “travo”.
Certa vez estava eu, sozinha, no parque, sentada num banco de frente para um lago, admirando a paisagem e ouvindo música com o meu fone de ouvido.
Já fazia mais ou menos meia hora que eu estava ali quando ele apareceu. Sentou-se na grama de pernas cruzadas e de costas para mim. Abriu sua mochila e tirou dela uma garrafa de água e um livro. Folheou algumas páginas e iniciou sua leitura.
Senti-me atraída.
Eu nem o conhecia, mas sentia que tínhamos muitas coisas em comum. Eu adoro sair sozinha, ele também. Eu gosto muito desse parque, ele também. Fiz desse lago o meu cantinho da paz, ele também. Eu amo ler e ele também!
- Oh, my God! Acho que ele nasceu pra mim. - eu pensei.
Quando eu dei por conta deste pensamento entrei em estado de desespero. Como é que EU iria chamar atenção dele? Por um momento achei que essa situação fosse alguma ironia do destino. Pensei em ir embora e deixar essa história de lado. Mas, eu estava tão encantada com ele que eu tive medo de me mexer e fazer com que ele me notasse observando-o e fosse embora.
Pensei em me aproximar e dizer algumas coisas banais, tais como “Oi, tudo bem, me chamo Eduarda, o que você está lendo?”. Mas essa ideia nasceu e morreu no mesmo minuto. Eu não tenho coragem. Sou covarde. Sou tímida demais pra isso.
O tempo passava e eu não sabia o que fazer. Até que...depois de algum tempo ele colocou o livro no chão e se levantou. Espreguiçou-se para a direita, espreguiçou-se para a esquerda, deu alguns passos até a beira do lago, agachou-se e lá ficou. Ficou ali, olhando para o nada, pensando na vida, meditando ou refletindo sobre qualquer que não pudesse imaginar.
Para o meu desespero maior, na hora que ele voltasse para o seu livro, ele iria me ver.
Meu coração acelerou, eu comecei a suar e tremer. Não sentia mais o chão e estava ficando com falta de ar. Ele levantou-se e eu, fiquei com vontade de correr dali o mais rápido possível. Fiquei com vontade de sumir. Ele virou-se... e me viu.
Por um instante ficou me encarando com a cara assustada, em seguida, deu alguns passos e tropeçou no próprio pé. Caiu de joelhos, levantou-se, foi até suas coisas, pegou o livro e sua água, guardo-os de qualquer jeito dentro da mochila e se foi.
Depois dessa cena cheguei a uma simples conclusão: eu sou tímida e ele também.