Ontem foi um dia bom

Ontem acabei a minha primeira novela...A sensação é estranha...por um lado sinto-me feliz, por outro lado triste, incompleto, como se tivesse deixado partir uma pessoa querida para longe...Escrevo relativamente depressa, mas esta novela demorou cerca de 6 anos a escrever...São apenas 95 páginas, mas páginas que escrevi em momentos muito próprios e sensíveis da minha vida...Durante a sua feitura, amei como nunca amei e amo vou amando e...gostaria de dizer que irei amar, mas não...Não perdi a capacidade de amar, mas a novela, velha companheira de mágoas e de alegrias já não vai lá estar para acompanhar a minha vida...É agora um objecto quieto que me olha perto do local onde escrevo as suas descendentes, à espera que uma editora olhe para ela como eu olho, com imenso amor e carinho e também ternura, ternura com que amamos os nossos filhos, pois a escrita para mim são isso, filhos, descendentes do que sou, marca indelével no tempo do homem que sou e que serei...

Durante estes anos acabei um curso, tive vários empregos, escrevi quase mil poemas, dois livros de prosa, conheci uma série de pessoas notáveis e nasceram a luz da minha vida, as minhas sobrinhas...

Durante este tempo habituei-me a arranjar continuamente ideias para a novela e depois, pouco a pouco, a acrescentar mais, lentamente, tão lentamente que pensava que o dia de a ver partir nunca iria chegar...Mas esse dia chegou, foi ontem de madrugada, várias cigarros e muita música depois, ela nasceu por fim, ela partiu, por fim e eu fiquei só sem ela.

Claro que já arranjei uma ideia para outra novela, claro que já estou envolvido nessa ideia que vai demorar muito tempo a ter a forma de livro, mas sinto tanto a falta da minha querida e primeira novela...Quem escreve ama o que escreve e eu amei desalmadamente aquelas linhas...

É tempo pois de voltar a crescer e de me dirigir a novas paisagens literárias, fecundá-las com o que sou e esperar que dela brotem belas e lindas palavras que vos toquem e que ao mesmo tempo me preencham, pois afinal não é esse o objectivo fundamental da escrita?

Ontem de facto foi um dia bom!