UMA DECISÃO DIFÍCIL
Um sujeito viajante e grande curtidor da vida, certa vez, após uma longa caminhada repleta das mais loucas e interessantes experiências, deparou-se com uma trilha que se bifurcava a sua frente. Estando ele indeciso sobre qual caminho escolher, inicia-se em sua mente um intenso e gigantesco dilema acerca da sua tão difícil decisão. Pois sabia que chegara o momento de fazer escolhas mais decisivas e importantes em sua vida e que, por isso, poderia cometer um grande erro ao caminhar por uma trilha que não satisfizesse os seus desejos e anseios que ainda restavam-lhe. Apesar de ser um curtidor da vida, ele não poderia mais seguir em frente sem refletir melhor sobre seus passos, porque outras pessoas, agora, dependiam da sua decisão. Havia muitas responsabilidades em jogo. E mesmo que os caminhos pudessem ser apenas duas formas de se chegar ao mesmo lugar, não poderia ele se arriscar tanto sem uma certeza. Eis que neste momento, um senhor que aparentava ser da localidade e conhecer bem aquele dilema dos que por ali passavam cruza o seu caminho e o olha com certo sentimento de compreensão. O tal sujeito indeciso, que já se encontrava cansado de tanto especular sobre qual caminho seguir, resolve abordar aquele senhor para obter uma ajuda com qualquer informação possível sobre aquela dúvida sua.
- Olá senhor. Desculpe te incomodar, mas é que me encontro numa verdadeira e intrigante dúvida sobre qual caminho seguir: se pego o caminho da direita ou o da esquerda? Será que você não poderia me ajudar me falando alguma coisa sobre isso?
Aquele senhor interpelado pelo sujeito, parou sua caminhada, olhou profundamente aquele homem, respirou fundo e respondeu:
- Oi. Em primeiro lugar, não é incômodo algum rapaz, pois não tenho pressa e nada de útil para fazer neste momento. Depois é verdade. É uma grande dúvida. Porém, depende do ponto de vista. Enfim, posso te falar somente que ambos os caminhos reservam muitas coisas boas, mas também algumas ruins. O da esquerda, por exemplo, pode proporcionar alguns momentos de aquisição de muito conhecimento científico e tecnológico, raciocínio e interpretação, fama e reconhecimento, além de algum conforto. Já o da direita, inversamente, lhe trará variados acontecimentos extremos que exigirão um amadurecimento reflexivo mais emocional que, ao fim, serão sua bagagem de experiência vivida e não tanto estudada. O primeiro é caracterizado pela possibilidade de adquirir muito conhecimento teórico, enquanto o segundo se configura como uma chance de obter a sabedoria de vida propriamente dita.
O tal rapaz, então, que terminara de ouvir aquele senhor com muita paciência e atenção, lhe diz:
- Pois então são duas propostas muito boas. Enquanto em um tenho a chance de ficar muito inteligente, ser reconhecido como um intelectual e conquistar uma posição de respeito na sociedade por conta de algo que eu possa criar ou construir; no outro, possuo uma grande chance de viver a vida intensamente, experienciar todos os tipos de sensações e ainda ter uma noção clara sobre todas as coisas e a minha própria conduta. Não vejo problemas nisso. São só vidas distintas.
Ao ouvir aquelas palavras do homem indeciso, o senhor rapidamente diz a ele:
- Meu rapaz, disse a você que existem muitas coisas boas em ambos os caminhos e é verdade. Não nego a exatidão do seu raciocínio. No entanto, tente deixar a euforia de lado um pouco e veja profundamente como seriam as duas vidas. O primeiro caminho proporcionaria muita ciência e algum status na sociedade, mas isso não cairia do céu. Para obter isso há um preço como, por exemplo, doar grande parte do seu tempo para se dedicar aos estudos das teorias, para fazer diversos tipos de experimentos, aplicar métodos, analisar e sistematizar seus resultados para poder, quem sabe daí, transformar este conhecimento em algo útil e possível para a sociedade. Com certeza, a vida social não seria das melhores, pois não poderia curtir mais todos os momentos agradáveis que a vida oferece, seguiria uma rotina maçante, sofreria com a solidão, algo constante, não se alimentaria muito bem, acabaria desenvolvendo sensações de stress constante e preocupação eterna. Já para o sábio bem vivido e experiente, faltaria um aprofundamento crítico das questões relacionadas ao conhecimento humano, não teria a chance de ser lembrado por alguma contribuição para a ciência e para a sociedade, pois viveria num constante anonimato, perderia chances de vivenciar algumas das situações da vida por falta de análises e interpretações mais profundas e sérias e, enfim, passaria boa parte da sua vida sem valorizar muito a importância das ideias. Após uma reflexão, que não é fácil e rápida acerca destas questões envolvendo todos os prós e contras, aí sim, acredito que seria o momento certo para escolher um caminho.
O sujeito, bastante intrigado com tal profundidade de reflexão e novamente impressionado com todas aquelas visões expressadas pelo senhor, indaga-o outra vez:
- Estou ainda mais confuso porque agora entendo que tenho que enxergar as distintas margens dentro destes caminhos também. Como é que o senhor sabe de tudo isso? O senhor pegou os dois caminhos e retornou?
Aquele, sempre muito sereno e pouco impressionado com a curiosidade do rapaz a sua frente, pois parecia conhecer muito bem aquele estado das coisas e das questões, o responde:
- Creio que estes caminhos meu rapaz, uma vez decididos sua escolha, não tem mais volta. Soube disso tudo que te contei através de um senhor que encontrei aqui neste mesmo lugar, como você está agora, há mais de trinta anos. Ele me disse tudo isso quiçá com mais sabedoria ainda.
O rapaz ainda mais extasiado com aquele experiente senhor, indagou-lhe outra vez:
- Mas, então, porque não seguiu um caminho após estas explicações fornecidas por um aquele sábio?
Esse o respondeu assim:
- Porque faço parte daquele grupo de pessoas que quando se encontram num dilema como este e acabam sabendo de antemão as consequências das suas possíveis escolhas, passam a vida ponderando e medindo as decisões, sem criar coragem para enfrentar a vida e assumir os percalços do caminho que resolvem seguir. Estou pensando nisso até hoje. O senhor que me disse estas coisas também estava ainda pensando e, com certeza, o que lhe falou sobre isso também estava.
Neste momento, o tal sujeito percebeu que querer prever o que vai acontecer e saber das consequências das decisões que tomamos, antes de vivê-las, de fato, não torna as coisas mais fáceis.