NO CARTÃO DÉBITO OU CRÉDITO?

No supermercado em um dos inúmeros caixas, uma senhora de meia idade entregou o cartão à moça do caixa.

-Débito ou crédito?

-Débito.

-Débito! Débito mesmo?

-Sim.

-Mas este cartão permite comprar a crédito.

-E daí?

-E daí, se a senhora pode comprar no crédito, porque quer pagar à vista?

-Por favor, moça...

-Há já sei, é pegadinha não é, onde esta a câmera, qual é a TV? Chamou a colega do caixa ao lado.

-Marina, Marina, estão fazendo pegadinha de TV aqui, me ajude a descobrir a câmera escondida.

-Moça você esta viajando na maionese, que câmera escondida nada, para com isso.

-Não é pegadinha?

-Porque você acha que é pegadinha de TV?

-Porque a senhora quer pagar no débito e não no crédito.

E o que há de fantástico nisso?

-É que...

-Vá minha filha, passa logo o meu cartão na modalidade débito para finalizar minha compra, tenho pressa.

A moça do caixa olhando para o cartão.

-O nome da senhora é Esperança?

-Sim é o que está escrito no cartão, e para facilitar pra você, aqui está o meu RG, e agora, por favor, debite.

A moça do caixa meio sem jeito.

-Não posso.

-Como não pode? Reagiu Esperança indignada.

-Simplesmente não posso.

Neste momento uma pequena fila de pessoas com seus carrinhos de compras, uns totalmente cheios, outros nem tanto, se formara neste caixa, onde as pessoas passaram a prestar atenção no que ocorria no mesmo.

Um cidadão na fila pergunta a mulher que está à sua frente.

-O que está acontecendo no caixa?

-Aquela senhora quer pagar com o cartão no débito.

-No débito! Será que é isso mesmo?

-É a caixa está achando que é pegadinha de TV, eu acho que não, na verdade acho aquela senhora prepotente. Onde já se viu! Porque querer pagar à vista, ela está querendo aparecer, neste mundo tem gente pra tudo, o senhor não acha?

-Concordo está querendo se mostrar importante, se quer aparecer, porque não pendura uma melancia no pescoço? Risos discretos das pessoas da fila.

Dona Esperança não pode deixar de ouvir esses comentários, olhou bem no rosto da moça do caixa que nessa altura dos fatos, lhe parecia uma imbecil, sentiu uma angustia crescente dentro do peito.

Seu bom senso lhe aconselhava pegar o seu cartão de volta, largar tudo e ir embora, deveria ir para outro supermercado, pois há tantos na cidade, mas a indignação que sentia não a permitiu que fizesse isso.

Percebeu algo brotando em seu íntimo, tentou se acalmar contando até dez, sempre usava este método para dominar suas paixões, respirou fundo, sentia uma leve tontura, custava a acreditar no que estava acontecendo.

Mas por ser uma pessoa equilibrada, e ainda acreditar que conseguia interagir bem na sociedade, tentou mais um pouco.

-Por favor, moça, vamos acabar logo com isso. Deu um sorriso triste, pois a última frase que dissera lhe lembrou de um verso em uma canção muito querida: Preciso acabar logo com isso.

-Por favor, moça, vamos acabar logo com isso, passe o cartão no DÉBITO.

-Não posso.

-OLHA AQUI... SUA... SUA...

-Calma dona, a senhora está ficando alterada! Um momento que eu vou chamar o gerente de operações, ele explica tudo direitinho pra senhora.

-Pois faça isso rápido, e espero ter uma EXPLICAÇÃO LÓGICA.

Novamente sentiu aquela inquietação e teve certeza que errara em não seguir o que o seu bom senso lhe aconselhara.

O gerente chegou solícito e educado.

-Algum problema?

-Esta senhora quer pagar a compra com o cartão à vista.

Dona Esperança sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha ao olhar para o rosto do gerente, não tinha dúvidas, ele era um imbecil, e sentiu medo temor, mais uma vez contou até dez, pediu proteção a Deus, pois tinha certeza de que coisa boa não ia acontecer.

O gerente pegou o cartão de Dona Esperança.

-Dona Esperança, em que posso ajudá-la?

-Quero pagar minha compra, e sumir daqui, fui clara?

-Claríssima dona Esperança, o único problema é que a senhora quer pagar à vista quando pode usar o crédito, só isso.

-Só isso? Espero ouvir uma explicação lógica, eu como um ser humano normal, acho que mereço, desde quando pagamento a prazo é uma transação financeira melhor que pagamento a vista?

-Calma dona Esperança, a senhora está nervosa, sobre o prisma de seu ponto de vista com referencia as formas de pagamento a prazo ou a vista, estão mais ou menos corretas.

-MAIS OU MENOS? Esperança, sentindo que estava perdendo o controle de si mesma, e consciente disso uma imensa tristeza lhe invadiu a alma.

-Calma Dona Esperança. Eu explico, à senhora vai entender. O normal é: Se o comprador pode comprar a crédito, não se justifica comprar à vista, as corporações de cartão de crédito preferem esse tipo de pagamento, é assim que o sistema quer, a senhora... Tem... Crédito... É no crédito... A vista jamais...

-ENTÃO ME VENDE O TEU PAI, QUE DEVE SER UM MERDA DE MARCA MAIOR E NÃO SERVE PARA NADA, COM PRAZER UTILIZAREI O CRÉDITO. PORQUE MERDA NÃO SE JUSTIFICA PAGAR À VISTA.

Após essa explosão de indignação dona Esperança sentiu tudo rodar, parecia que o gerente falava de muito longe, baixinho... E tinha certeza de que no momento estava jogando os produtos de sua compra sobre o gerente, a moça do caixa e nas pessoas a sua volta... Depois o nada...

Dona Esperança recobrou os sentidos em uma cama de um quarto totalmente branco, com as paredes acolchoadas, percebendo local em que se encontrava: chorou.

Roberto Afhonso
Enviado por Roberto Afhonso em 16/03/2013
Reeditado em 21/03/2013
Código do texto: T4191701
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