PAPA JOSÉ

Sentado na varanda, o velho sertanejo olhou para o curral e viu o pé de ipê todo amarelo, bonito, parado na paisagem seca. Não tinha um pé de vento. Sentiu só o mormaço vindo das coivaras e das capoeiras. Uma tristeza medonha lhe invadiu o coração, também seco, sem esperança. Bebeu um gole da água morna e barrenta, a mesma água que ele dividia com os bichos, afinal era tudo “fi de Deus”, como ele dizia. A mulher dele estava lá, ouvindo o radinho de pilha, acompanhando o conclave que iria eleger o novo papa.

- Êita seca desgraçada! – pensou. Os olhos secos nem chorava. Sofria só de ver os bichos morrendo um a um.

A mulher entrou eufórica. O papa tinha sido eleito. A fumacinha branca tava lá, saindo na chaminé, diziam no rádio. Ele nem se levantou da cadeira. Viu uma fumaça branca rodopiando no terreiro. Era a poeira ciscando no chão seco.

A mulher entrou outra vez, mais eufórica ainda. Já sabiam quem era o novo papa.

- Hôme, se alevanta daí e vem ouvir! O nome do novo papa é Francisco! São Francisco lá de Canindé! Graças a Deus! Deus seja louvado!

Ele se acomodou na cadeira e olhou para o serrote. Só galhos secos e pedras. Só estava florido mesmo o desgraçado do pé de ipê. Era um mau presságio. Quando o ipê flora é sinal de que o inverno não vai ser bom. Porém, havia uma última esperança para o sertanejo: Dezenove de março, o dia de São José já estava chagando. Dia de São José sempre chove e aí o inverno pega de vez.

- Bem que eche papa podia se chamar José, de São José, Padroeiro do Ceará. Pru mode Nosso Sinhô olhar para essa terra véia ressequida e mandar chuva, pro sertão num morrer de vergonha e sede.

- Ôxente! Hôme de Deus! O que é que tu tá praguejando aí?

- Né nada não, muié. Ôxe! Tava só aqui pensano alto.