O ENGARRAFADO

Antonio Carlos entrou confiante na agência bancária. Tinha certeza de que tudo daria certo desta vez. Fizera pesquisa de mercado e o negócio que pretendia erigir não podia fracassar. Agora era tentar o empréstimo e por mãos à obra.

Assim que entrou na agência, foi recebido por uma funcionária. Segundos depois, quem o atendia era o gerente.

– Pois não, em que posso servi-lo, Senhor… Senhor…

– Antonio Carlos.

Pois não, Senhor Antonio Carlos, a que devemos a honra de sua visita a este banco?

– Seu Cornélio… – disse Antonio Carlos, lendo a placa em cima da mesa com o nome do gerente. – Sou um empreendedor, entrarei num ramo comercial que, tenho certeza, será muito viável, mas para que isso se concretize, preciso me capitalizar. Venho, portanto, pedir um empréstimo.

– Se seu problema é esse, considere-o resolvido. O Senhor tem cadastro no banco?

– Não, Senhor.

– Tudo bem. Vou encaminhá-lo à funcionária responsável. Tenho certeza de que o Senhor terá seu empréstimo. Desejo-lhe toda a sorte do mundo neste empreendimento.

Nem quarenta segundos transcorreram e Antonio Carlos estava diante da funcionária que o cadastraria.

Entre as perguntas regulares da moça, vinham essas:

– Nome da rua e número da residência.

– No momento, resido num engarrafamento.

– É? Em qual engarrafamento o Senhor reside?

– O da Marginal Pinheiros.

– Em que altura, seu Antonio Carlos?

– Do Jóquei Clube de São Paulo.

– Puxa! – disse a mulher. – O Senhor está num belo engarrafamento, com vista para o Rio Pinheiros, mas para finalizar seu cadastro, precisarei de uma foto de seu carro preso no engarrafamento, autenticada pelo DETRAN.

– Já tenho a foto comigo. Autenticada pelo DETRAN.

Entregou a foto, onde no verso se lia: “A quem de direito, declaramos que o veículo Gol, ano 2006, chapa 0171, de propriedade de Antonio Carlos, encontra-se devidamente engarrafado no congestionamento da Marginal Pinheiros, sem data prevista para liberação.”

A moça perguntou, enquanto olhava a foto:

– Há quanto tempo o Senhor está preso neste engarrafamento?

– Dois anos.

– Faz um tempinho bom. Comprou este carro financiado?

– Sim, aproveitei uma promoção sensacional, sem entrada e em oitenta prestações com dez mil de troco.

– Pela foto, reconheço o tipo do carro. Meu tio Zé Tonto tem um igual que está preso no engarrafamento da Marginal Tietê. O Senhor gostou do automóvel? Sentiu como ele é bom na pista? Meu tio adora o dele.

– Na verdade, nem pude sentir o desempenho, pois no dia da compra, já no trajeto para casa, entrei na Marginal Pinheiros em frente ao Jóquei Clube e lá fiquei engarrafado.

Roberto Afhonso
Enviado por Roberto Afhonso em 13/03/2013
Reeditado em 28/09/2018
Código do texto: T4186421
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