Um caso sobre Cônego Pinto
O caso do Cônego Pinto
Ainda era muito pequeno ,muito inocente para entender bem o que se contava.Sempre ouvia casos dos ** mais velhos ** nas noites frias do mês de maio quando nos sentávamos em volta do fogo aceso na cozinha da casa de minha tia enquanto esperávamos o cafezinho e bolo que ela fazia. Moráva-mos na pequena cidade de Cipotânea na zona da mata mineira.
Era uma cidade bem pequena,onde quase todas as pessoas se conheciam.Pouquíssimas pessoas possuíam carro.Normalmente era mais comum o jeep,devido às condições das estradas com muito barro,buracos,etc. Também caminhões como o Chevrolet Brasil que fazia transporte de leite das fazendas .Porém,o meio de transportes mais usado era o cavalo.
Era comum aos domingos quando voltava da missa,ver muitos cavalos amarrados às portas das **vendas **,como eram chamados os armazéns daquela época.Muitos daqueles homens vinham das roças para a cidade assistir à missa,depois aproveitava para tomar uma **pinguinha **,comprar fumo de rolo ,conversar um pouco e depois voltar para a roça.Também era comum ver sempre dois homens trocando socos do lado de fora da venda ,e os outros assistindo,até aparecer um parente ou amigo de um deles para separar os dois,ou tomar partido de um na briga.
Nas noites de quaresma, nós crianças tínhamos medo de sair à rua,e como de costume eu ia me sentar na casa de minha tia para ouvir conversas, casos e estórias. Havia um senhor de nome Antônio que contava estórias com tanta perfeição que parecia para nós um filme.
Podíamos imaginar cada cena do que ele contava.Imaginamos muitas vezes os palácios,o céu,o inferno,a cidade grande,o trem de ferro, que nem conhecíamos ainda.
Um dos casos que muito me chamou a atenção,e até hoje aos 61 anos fica na minha lembrança,foi o caso do Cônego Pinto. Segundo todos os moradores daquela época,um caso verídico.
Eu mesmo não o conheci,lembro-me apenas de D. Fausta,sua sobrinha que faleceu no mesmo dia que o meu tio João Barão.
Cônego Pinto era um padre (cônego ) negro,muito santo,muito piedoso.Porém,o demônio o vivia atentando.Muitas vezes ,ao rezar seu breviário,uma oração que deveria ser rezada todos os dias sem interrupção nenhuma,o demônio dava um jeito de desviar sua atenção,fazendo com que alguém o chamasse,ou derrubando alguma coisa. Mas, o cônego,por inspiração divina,sempre descobria as armadilhas do inimigo e o expulsava.
Dizem que;em uma noite chuvosa com relâmpagos e trovões,Cônego Pinto dormia ,quando um rapazinho puxando um cavalo pelas rédeas bateu à sua porta.
O Padre o atendeu .Disse o rapaz: Padre: Meu patrão mandou –me buscar-te.Uma pessoa na fazenda está nas últimas ( morrendo ,naquela época dizia-se que a pessoa estava nas ultimas ). Precisamos que o senhor vá até lá para dar a extrema-unção.O padre disse ao rapaz. Espere um pouco.vou me arrumar e já volto.
Pouco depois,o padre saiu com sua pasta onde continha seus paramentos,água benta,óleo para extrema-unção,seu breviário do qual nunca se separava,pegou sua mulinha,montou e seguiu o rapaz.chovia muito. Os relâmpagos riscavam o céu seguidos de faíscas e estrondos que faziam tremer o chão.
Entraram por uma trilha .O padre o foi seguindo noite a dentro,nem sabia em que rumo estavam indo.Andaram pela mata em um emaranhado de cipós,espinhos,solo escorregadio,além da chuva .A escuridão era total,a não ser pelos relâmpagos que o deixava ver de vez em quando o rapaz que seguia à sua frente.
Depois de muito andarem,o padre todo molhado,percebeu que ficara preso em uma **moita **de cipós e espinhos.Tentou em vão sair daquele lugar,mas,a escuridão e o emaranhado não permitiram.Gritou pelo rapaz,mas,não obteve resposta.Após alguns minutos de silêncio ouviu um estrondo seguido de uma gargalhada.Depois uma voz estridente gritando assim..” Não falei que eu te pegava,Pinto Preto”.
_____O Padre percebeu então que era mais uma das peripécias do demônio.
Deitou-se sobre a cabeça do arreio, e disse consigo mesmo. Se esta mulinha me levar ao caminho da minha casa,nunca mais ninguém montará sobre seu lombo...Rezou suas orações a DEUS, acabou de rezar e dormiu sobre o arreio.Quando acordou,estava à porta de sua casa.
Desceu,guardou suas coisas,voltou , tirou os arreios da mulinha e a levou ao pasto.
Alí ela ficou e ninguém mais montou sobre ela. Morreu de velha.
Dizem que quando Cônego Pinto morreu, as pessoas,de tanta fé que tinham nele,cortaram pedaços de sua batina e guardaram .Todos queriam pelo menos um pedacinho daquela relíquia.Contam ainda que em algumas fazendas até hoje se encontram guardados a **sete chaves retalhos de sua batina.
Barbacena 05/03/2013
João Batista de oliveira.