- Ainda dorme Madalena?
 
 - O que? Por que quer saber Osvaldo?
 
 Mas ao levantar os olhos vê somente a escuridão que invade o quarto.
 
 A luz da rua silenciosa entra pela janela semi aberta. Entra também um calor que mais parece as línguas de fogo que vaporam do inferno. Osvaldo tem sede.
 
 Vai até a janela no intento de renovar aquele ar do quarto, um cheiro de cinza, bebida e bolor.
 
 Respira fundo – tosse, tosse. Precisa deixar de fumar.
 
 Em cima da cômoda repousa um espelho, um velho espelho que reflete os dias e noites daquele fétido quarto onde Osvaldo se encerra nos finais de semana.
 
 Madalena lê absorta seu livro favorito, evita se olhar no espelho, pois seu reflexo deixa rastros de fantasia em sua realidade e mancha sua realidade de sonhos.
 
 Ela espera que Osvaldo sente-se ao seu lado e quem sabe lhe faça um carinho, acaricie seu corpo que esquecido repousa embaixo de um vestido surrado que um dia foi azul.
 
 Nunca mudou a pagina, a anos que ela lê sempre a mesma. Estranho! Parece imóvel.
 
 Osvaldo olha pela janela sem nada dizer.
 
 - O que tanto olha por essa janela?
 
 - Aquela vizinha do prédio ao lado.
 
 - O que tem ela?
 
 - Toda vez que venho a essa janela ela está lá, sentada naquela cama lendo um livro. O mais estranho é que ela nunca vira a pagina, parece imóvel.
 
 Madalena suspira fundo, olha por cima dos óculos para Osvaldo e diz:
 
 - Ela deve estar esperando seu marido chegar cheio de amor pra dar e quem sabe fazer amor durante toda a noite e também madrugada adentro.
 
 - Será?
 
 - Quem sabe?
 
 Osvaldo imagina ser o sortudo marido.

 Madalena suspira fundo e volta para seu livro...



 
Paulo Moreno
Enviado por Paulo Moreno em 05/03/2013
Código do texto: T4172655
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