Desabafo na primeira pessoa.
Sábado. De longe é o dia da semana em que minha índole torna-se mais mesquinha e invejosa. Tenho inveja de todos. Ou de quase todos. Tenho inveja das crianças que aproveitam seus sábados descontroladamente, brincando e inventando histórias em sua fértil imaginação; que acordam e realmente enxergam o dia diferente, valorizando o sol e aquele cheirinho de grama cortada. Tenho inveja dos jovenzinhos, que ainda não são jovens, mas que aproveitam seus sábados para fazer besteiras com consequências que variam de grau, podendo ser nulas ou sérias. Tenho inveja dos namorados, que tem como sábado o dia de ver a sua pessoa amada, seja para ama-la ainda mais seja para ter suas pequeninas brigas fúteis. Tenho inveja dos festeiros, que aproveitam o sábado na mesmice de suas baladas, vendo sempre as mesmas pessoas, bebendo as mesmas bebidas e fofocando sobre os mesmos babados. Tenho inveja dos casados, que aproveitam a folga do trabalho para aproveitar seu parceiro ou para brincar com as crianças- se as tiverem. Tenho inveja dos idosos, tanto dos que apreciam tão somente a boa missa como daqueles que cultuam a vida em família como se cultuam os santos, o que é algo realmente certo e necessário de se fazer.
Nesses tristes sábados, todos que me amam e que eu amo estão fazendo as coisas que eu gostaria de fazer, mas não as faço. Eu escuto a bronca de um pai que acredita que eu tenho dez anos, quando tenho quase vinte; eu desejo um divirta-se para meus amigos de balada e de namoros; eu imagino apenas o que poderia estar fazendo com o meu namorado que longe vive.
Nesses tristes sábados, sou mesquinha e invejosa. Nesses tristes sábados, tenho inveja até dos sábados que eu mesma já tive. Nesses tristes sábados, conto com a escrita que impede meu suicídio e que me fornece força para o início de mais uma semana, para depois chegar novamente o sábado e eu ter a chance de quem sabe renovar minhas esperanças e tudo de repente voltar a ser como deve ser.
Apenas desabafando na primeira pessoa,
Morgana Alencar.