O skate e a Rampa
Observei quatro jovens que deviam ter uns treze anos, cada qual com seu skate. Suas conversas eram entremeadas de estridentes gargalhadas e gestos.
Um deles, uma garota vestida tal qual aos meninos falou:
- Disse-me o tiozão quando viu que eu estava triste, chorando e carente. Queria levá um léro sobre o bagulho. Tá ligado mano?
Ele me olhou tirando uma fita. Tá ligado mano? Olhô tanto que devo ter ficado tatuada nas ideias do velhão. Tá ligado?
Quando em fim passei por eles reparei nas feições quase infantis da menina. Era bonita, mas seus dentes sua mente e alma requeriam alguns cuidados urgentes.
Pensei que se pudesse, sem levantar suspeitas ou a pérfida imaginação dos espectadores, dizer:
- Fala mano. Tá ligado? Queria trocar uma ideia com você e com sua galera. É sobre um bagulho. Aí ó. Um lance forte. Uma ideia que pode levar vocês há um voo muito mais alto. É uma Rampa. Aí ó. Só sobe e faz subir. Aí ó. O bagulho é a felicidade, os skates seus destinos e a Rampa é Deus. Ele quer ficar ligado e dar um bom futuro a vocês. Tá ligado? Não? Então se liguem manos.
Que estes jovens sejam iluminados e subam a Rampa correta.