CABRITO DE MONTANHA
A visão daquela imensa curva azul indo ao céu até lhe tocar, ficou pintada em minha memória com tintas de fascinação. Aos sete anos pela primeira vez estupefata, vi o mar. Era muito além do que eu podia imaginar. Mineral em movimento com os longos braços puxando a areia sob meus pés, convidando ao seu encontro, uma sensação única!
Não haviam adjetivos suficientes para dizer minha admiração. Creio que ele percebeu, deu-me um presente. Estava lá entre as rochas que escoravam as vagas. Uma concha enorme.
Para mim que sou "cabrito de montanha", longe de qualquer oceano, esta concha era uma preciosidade. Diferente de olhar uma foto ou ver um filme do mar. Ela tinha vindo de seu seio, uma parte dele em minhas mãos. Possuía suas cores, seu cheiro e seu canto, uma música que me transportava de volta para lá. Quanta alegria me dava!
Depois de algum tempo, este tesouro desapareceu. Procurei até saber seu paradeiro. Achei o dono da façanha. A resposta foi-me dada friamente: “Joguei fora, era só uma porcaria!”
Porque destruímos o que é tão importante para o outro?
Fazemos isso incessantemente, muitas vezes sem perceber. Desprezamos o bom dia, o sorriso, o gesto, uma oferta, um pedido, a simplicidade, o carinho... ou seja, suas conchas!
Acho que poderia nomear tal ação como INSENSIBILIDADE mas, creio ter vários outros nomes também! É bom pensarmos em todos eles.