O último ato
Era sábado e Eduardo abriu uma cerveja quente e pensou na vida. A falta do que fazer às vezes nos faz refletir sobre a própria existência. E com Edu a coisa acontecia mais do que o normal. Seu tempo ocioso era maior que o gasto no trabalho pelo funcionário mais bajulador de uma empresa qualquer. Aquele que fica depois da hora de ir embora por falta de atrativos na vida ou por doença mesmo.
Afinal. O que satisfaz um homem? Uma boa foda, uma viagem regada à bebida ou uma morte digna? Ninguém saberia responder, foi a conclusão de Edu. O segundo gole daquela cerveja seria tão ruim quanto um arrependimento qualquer? Os goles seguintes nunca são contados ou lembrados a não ser o último da última cerveja. Como a vida. Algumas passam despercebidas, com exceção do primeiro e do último ato.
Edu tinha feito coisas legais durante as últimas horas. Mas não conseguia se lembrar. Uma dor tomava seu estomago e a cerveja parecia ser a melhor opção, mesmo quente. Mas ele estava errado. A dor não era dor. Era uma sensação estranha de fracasso. De dever cumprido da forma errada. Edu viveu assim. Sempre fez as coisas de qualquer forma, sem se preocupar com os detalhes ou o tom da música. Sempre gostou de punk rock e nem por isso se arriscara a tocar alguma coisa. Limitava-se a observar e sentia-se mal por ser assim.
Não agia. Reagia às vezes. Mas Edu não podia apenas reclamar da existência. Não era virgem e apesar do pênis abaixo da média tinha vida sexual alem da mão. Sempre teve alguns trocados para comprar as bebidas e nunca fez as contas para planejar alguma coisa.
Era sábado e Edu, com uma cerveja na mão, ao lado do cachorro, ficou ali no sofá de um único lugar preto. Parado. Foi o último ato (se é que se pode chamar assim) e a lembrança só existe por se tratar do último. Afinal, a morte às vezes não é tão ruim assim, pensou após cansar de se preocupar com a sensação estranha que tomara conta dele nas últimas horas.