O Homem que Sonhava
O homem caminhava a passos lentos em direção ao ponto de ônibus. Sonhava em um dia ter um carro, mas com o salário que ganhava, sabia que seu esforço precisaria ser muito maior.
No trabalho as coisas não eram diferentes. Ele queria, ele se iludia com uma promoção sempre prometida, porém nunca alcançada.
Há quanto tempo estava nesse vai e vem? Seis anos.
Sua vida não era agradável. Rapaz pobre, morava na periferia e não tinha orgulho disso. Queria mais, queria sempre mais.
Nunca falava com os outros de seu bairro por considerar-se superior. Diferente deles. Em seu ego já perdera preciosas amizades e até o amor de uma bela moça ele deixou passar.
No entanto, nunca realizava seu sonho. Os anos foram passando e ele não mudava. Pensava em fazer faculdade, quando tudo o que fazia era sair com os amigos do trabalho para beber. Ele sabia que não pertencia a aquele mundo, porém queria fazer parte dele e não se dava ao luxo de voltar para seu bairro de derrotados tão cedo.
O ônibus parava a meia noite mas o homem não se importava. Molhava o copo até altas horas da madrugada e voltada para casa de taxi. Afinal de contas, não queria esperar o ônibus da madrugada entre tantos “maloqueiros”.
Certa vez um rapaz lhe cumprimentou. Ele fingiu que não viu. Teceu uma meta para si: sair daquela favela com tantos ignorantes, e migrar para a classe média, pelo menos.
O trabalho lhe pagava bem. O suficiente para se manter e estudar. Mas o jovem solteiro e arrogante queria apenas farra. Noite após noite, seu dinheiro era deixado em botequins, casas noturnas e taxistas.
Mas nada era eterno. A empresa mandou embora os funcionários que não estudavam, e ele entrou nessa lista.
Os amigos abastados agora não se lembravam dele. Correndo desesperado, batendo de porta em porta, todos lhe viraram as costas, e por fim o homem constatou que estava só.
Não. Espere... Ele tinha alguém: a cevada fermentada que descia gelada por sua garganta lhe era fiel companheira, e o ganancioso rapaz envelheceu. Sujo, imundo, esquecido junto aos ratos no canto da mesa de um bar.