Dona Helena
É o que o povo chama “ uma força da natureza”. Abundante de carnes e sorriso aberto, reina na sua banca do mercado e nos espaços limítrofes. Distribui conselhos, escuta as queixas e recomenda as mezinhas com a expressão adequada ao tempo e à circunstância. Os fregueses vêm para a conversa e acabam comprando o que ela vai sugerindo, entre o borrifo das couves e a limpeza do espaço. O que os colegas não aceitam negociar por ser raro na dieta portuguesa ou até desconhecido, é artigo indispensável no seu setor. Vende tamarinos, phizalys, quiabos, repolho de jardim, tâmaras importadas, primícias da época, cerejas do outro lado do mundo. Como faz para vender as raridades? - É muito fácil - confessou-me – Olho o comprador e leio-lhe a maleita. Aos que são de uma palidez esverdeada digo que o artigo é caro mas é excelente para o fígado; às velhotas mais empenadas refiro as maravilhas no abrandar do reumatismo e, aos senhores já maduros, recomendo para recuperar a próstata. Quem não sabe de negócios fecha a loja, acrescentou. E, exibindo-me as framboesas fora de época, em jeito de quem apenas se quer informar, perguntou: - A sua úlcera tem zaragateado consigo? Nada há melhor que isto para as crises. Em batidos com leite, é claro.