O Regresso
Voltei. A cancela estava destruída mas ainda marcava o começo da propriedade. O capim alto tapava a casa agora sem vidros e, no pátio, os vasos não tinham plantas. Quando cheguei à varanda estavas de pé, apoiada na parede de cal suja. Corpo envelhecido, os mesmos olhos negros, uma lassidão serena. – A vida mudou – disseste. O gesto lento do braço abarcou todo o lugar. Depois, já sentada a beber o café da caneca de esmalte, acrescentaste: - Tudo, por aqui, agora, é diferente. Tratam-me bem e deixam que fique, tranquila, a ver o antigo mundo renascer no meu pensamento. Hoje vi-te no meu sonho. Embarcavas no caminhão que te levou e choravas porque eu queria ficar. Disseste que voltarias para me levar depois da desilusão. Mas, sabes, demoraste tanto tempo que ganhei raízes aqui. Não mudei os olhos mas alterei o olhar. Tudo o que te afastou daqui está certo na minha história.