AMOR A PRIMEIRA VISTA

Quando olhei em minha volta, já não pude mais contentar-me. Teus olhos bem arregalados, tua boca um pouco fechada, tua cabeça bem posta e fitava-me com ar de deboche. A cada passo que eu dava, sentia um pouco de medo, mas tu estavas fitando-me, como vigiando a todo momento.

Não pude contentar-me. Olhei a minha volta e não via nada. Somente tu estavas ali bem atenta, cheia de vida, cheia de ódio, não sei ao certo. Tuas orelhas acompanhavam os meus poucos passos dados. O medo tomava conta de mim. Será verdade o que estou passando? Ali, somente nós dois, sem ninguém por perto, sem um abrigo, sem uma árvore, sem sinal de telefone. Que decepção. Tu não gostas de mim. O teu ódio é tanto que tua boca espuma de raiva. Os teus olhos brilham com um brilho tão forte e desesperador que minhas pernas curvam de medo. Elas estão trêmulas, sem vida, sem disposição. O que fazer?

Lembro-me de ver-te, ali. Não gostaste de mim. Sei que minha aparência não é lá muito boa. De barba grande, de chinelo nos pés, de bermuda marrom e camisa vermelha. De óculos bem grande, de cabelo grande e cacheados, com um boné vermelho na cabeça. Um celular que não tinha sinal. Que surpresa para ti em ver uma figura tão atrapalhada, tão feia e não digna de tua beleza.

Não conversamos porque não deixaste aproximar. Teus pés batiam com tanta força no chão. Tua aparência era de puro ódio, de pura fúria.

Sem que eu disse alguma coisa, deste um passo à frente, mas eu não consegui conter-me, dei cinco para trás. O que fazer eu ali naquelas condições. Sou casado, tenho dois filhos. Não sei, mas tens filhos, não sei quantos. Não gostaste de mim nem um pouco, principalmente vendo em minha volta. Eu, ali, sozinho, e tu com algumas amigas, não sei quantas, não sei se existem outras tuas amigas de verdade, mas pude contar pelo menos umas quinze. Será que elas também não gostaram de mim?

O tempo passa. Nossa amizade é pouca ou talvez nem haja. Não deste tempo suficiente para que eu te desejasse uma boa tarde, porque a tua raiva contra mim é tão grande que mal posso compreender. O que fiz para deixar-te tão agressiva, tão nervosa. Será que foram fofocas de tuas amigas, porque mal as conheço, nem sequer as vi.

A tua raiva era tanta, que mal pude dizer-te uma só palavra.

Não sei como, mas deste um grande impulso. Quando percebi, estavas bem próxima de mim. Não pude fazer nada, a não ser correr. Imagine nós dois ali, sem casa, sem árvore e somente uma pequeno córrego a minha frente e também a minha salvação.

Como eu corri. Perdi minha chinela, perdi meu boné e somente não perdi meus óculos porque eu não enxergava outra coisa a não ser correr e correr muito. Tu bufavas atrás de mim e a minha salvação foi um córrego, pelo qual atravessei sem saber nadar.

Quando estava na outra margem, tua aparência não era mais de enfurecida, mas de alegria e de vitória. Da mesma forma festejaste juntamente com tuas amigas.

Neste dia, jamais vou esquecer-te, o Vaca grande, branca, de chifres grandes e da cara feia.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 23/02/2013
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