Algum Futebol na Sala da Família
Ligou a televisão, abriu um latão de cerveja, e pediu a sua esposa que trouxesse um prato recheado com o amendoim descascado e salgado. Tinha comprado meia hora antes, no mercadinho próximo da sua casa. Estava começando mais um jogo do seu time do coração, pelo Campeonato Brasileiro. Silvinho, seu filho único, que tinha apenas oito anos de idade, estava ao seu lado. Ambos estavam sentados no maior sofá daquela pequena sala de estar. O pai lutava para convencer o menino a mudar o time que torcia, pois era o maior inimigo regional do seu. Tal gosto que o garoto recebeu da sua mãe e da sua avó, justamente, a “querida” sogra do provedor da família: o Sr. Joaquim. “Hoje eu te convenço a virar a casaca, pirraio!”, disse o pai, dando-lhe um sorriso. O jogo começou, e o time amado entrou com o padrão tradicional. Seu Joaquim beijou a camisa do seu clube de futebol, que havia vestido para aquela ocasião. Fez questão de fazer isso diante do filho, a fim de induzi-lo a pegar o gosto pelas cores do seu time querido. O menino riu. O pai não gostou disso.
Transcorreu o primeiro tempo, o time de seu Joaquim não estava jogando bem e fechou os quarenta e cinco minutos perdendo por 1x0, jogando em casa. Final do primeiro tempo; o menino riu novamente. “Vou fazer você engolir essa risada no final do jogo, seu moleque”, resmungou o seu progenitor. Começou o segundo tempo. O time do pai de família fez um gol logo no início. Seu Joaquim soltou uma gargalhada maquiavélica e o menino se encolheu como um gatinho assustado. No entanto, após alguns minutos, o time oponente fez dois gols seguidos e, assim, fechou a partida com o resultado de 1x3. Nisso, o pai, com um semblante desconsolado, olhou para o menino e implorou para que ele vestisse a sua estimada camisa tricolor. O menino riu e disse: “Não, papai, nunca vou vestir essa camisa feia e azarenta.” Então, Silvinho saiu correndo para a cozinha, onde a sua mãe estava acabando de fazer o jantar. Seu Joaquim bufou, resmungou e, comendo uns grãos de amendoim, disse: “Sogra rabugenta, foi ela que botou o menino contra mim.”