A Cigana
A cigana acreditava na sina, ganhava a vida a “ler” o destino de quem lhe pagasse, mas tinha a exata noção de que, para ela, os astros nada revelavam nem, tão pouco, a observação das linhas, marcas, entalhes e cortes das mãos. Era absolutamente ignorante nessas matérias mas, sendo cigana, facilmente poderia enganar gente crédula e isso estimulava-a. A vida honesta – pensava – era monótona e, depois, a sua adrenalina subia com os riscos. Pequenos furtos no supermercado, venda de jogo do ano anterior, frascos de perfume com água e outras, muitas pequenas vigarices, que acrescentavam a renda da família e a compensavam pela segregação. Conheci-a no Jardim da Estrela. Ela queria ler-me a mão, adivinhar-me o futuro, ver as felicidades que ainda teria para gozar e os golpes que me estavam reservados. Levava três euros mas fazia mais barato, dois euros porque eu era estudante, um euro até, só para salvar a tarde, choramingou. Olhei-a. Que bonita era assim de saia rodada e longa, cabelos apanhados, pescoço alto, olhos brilhantes. – Pois bem, disse-lhe. Dou-lhe cinco euros mas quero ser eu a ler a sua mão. A cigana, estupefacta, olhou para a nota, olhou para mim, hesitou mas…decidiu-se e, ansiosa, estendeu-me a mão que tremia sob os meus dedos. Estava apavorada com o que eu poderia saber sobre o seu porvir mas sorriu de alegria quando lhe disse: nem sempre a vida lhe será leve mas você vai ser uma mulher feliz e, se tiver atenção, será uma companheira excelente e uma mãe carinhosa. A moça cigana, de tão encantada que estava não queria aceitar o dinheiro mas insisti em lho entregar. A tarde ficou ainda mais bonita.