Uma viagem pela vida toda. (republicado)
Ainda sonolento, desceu do trem e procurou saber onde estava. Dirigiu-se ao guichê do caixa e indagou: - Onde estou? Com um ar sisudo, um tanto desconfiado, o olhar vazado entre as sobrancelhas e o velho óculos opaco, o atendente responde: - Mas ainda nem chegamos, como queres saber onde estamos? Sabes de onde vindes? Por acaso sabes aonde queres ir?
Recolhido em sua pequenez, senta-se no banco para ver se o tempo passa. A estação não pára, num frenesi dos que chegam e dos que vão, dar impressão que pouco importa saber onde estamos, se nem sabemos de onde viemos, nem aonde vamos.
Descobre que tudo é relativo, se você chega ou vai, pouco importa, nem mesmo aonde vamos, o trem é o mesmo. O importante é onde estamos. Como saber?
Ninguém parece preocupado se você chegou ou se vai. É como um jogo onde os argutos e manhosos mudam as aparências para vencer, mesmo que algo ou alguém seja esquecido na estação da vida.
A aquela estrutura de ferro do teto, com brechas que deixam vazar a luz do sol do final de tarde, pontilhando o assoalho desgastado pelos passos dos que chegam e dos que vão, como num transe hipnótico, revela que partir ou chegar depende mais de onde viemos ou aonde vamos, do que onde estamos.
Mais tranquilo, imaginando ser um baile de estrelas, que se apagam vagarosamente, deixa-se pintar pela luz da lua cheia, que toma o lugar do sol, deita a cabeça sobre a bolsa e dorme.
O tempo não passa. Um som agudo o desperta e o faz voltar à sua verdade; é o sino que toca e ressoa no hall da estação, não anunciando uma nova partida do trem, mas sim chamando os condicionados e necessitados de perdão aos pés dos "gurus". Confere a hora: 6h30min.
Imagina um café quente com torradas, doces, salgados... ia bem. Contenta-se com uma maçã que restou do jantar. É sua luta pela sobrevivência diária, pois precisa ver e sentir além das aparências, muito além da sombra do presente, se é que realmente pretende seguir viagem, pois esta é longa, é pela vida toda, e ele precisa chegar. E faz seus pedidos ao Universo: Humildade para aceitar; Força para mudar e Inteligência para entender.